A automação industrial é vista como uma estratégia da indústria para superar os desafios, principalmente no cenário pós-pandemia. Os últimos dois anos apontaram a real necessidade de o setor investir em soluções e em tecnologias para superar os obstáculos. Um dos pilares para o estímulo à inovação é a automação, uma ferramenta fundamental para agregar valor e fazer a indústria nacional tornar-se mais competitiva.
A automação é o caminho para aumentar a eficiência operacional, reduzir custos, flexibilizar as linhas de produção, melhorar a qualidade das entregas e criar serviços e modelos de negócios mais aderentes e alinhados às novas demandas do mercado. Para falar mais sobre esse assunto, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) conversou Cyril Perducat, vice-presidente e chefe de Tecnologia da Rockwell Automation. Ele é conhecido mundialmente por criar novos recursos de negócios e tecnologia para apoiar a transformação digital dos clientes e desafios de sustentabilidade.
Fundada em 1903, com sede em Milwaukee (EUA), a Rockwell Automation é um dos principais fornecedores globais de soluções em automação industrial, manufatura, produtos de segurança, energia, controle e informação.
Agência de Notícias da Indústria – Como o mercado global de automação pode contribuir para o crescimento da indústria?
Cyril Perducat - Há mais de uma década, líderes da indústria discutiam um novo conceito – a Indústria 4.0, as rápidas mudanças que ocorriam na tecnologia, indústrias e processos globais possibilitados pela crescente conectividade e automação inteligente. Desde então, a Internet Industrial das Coisas (IIoT), realidade virtual e aumentada, inteligência artificial autônoma (IA) nos informam que máquinas transformaram a manufatura. Depois de mais de dez anos aplicando essa tecnologia, agora é hora de dar um passo para trás e pensar no que funciona, no que não funciona, e no porquê, enquanto olhamos para o futuro e crescimento da Indústria 5.0.
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O mercado de automação global vai, sem dúvidas, continuar a abastecer o futuro do crescimento industrial. A chave para esse crescimento, e o sucesso dessas tecnologias dentro de indústrias específicas, é a precisão que diz respeito ao problema que você tenta resolver e o resultado de negócios que deseja. A abordagem “negócios em primeiro lugar, tecnologia em segundo” vai estimular a continuidade do rápido crescimento e mudança.
ANI - O que há de novo no mercado de automação nos próximos anos?
CP - Em todo o mundo há um apetite crescente por processos de fabricação flexíveis para reduzir o tempo de colocação no mercado de novos estilos de embalagem e alcançar uma quantidade econômica de pedidos. Fabricantes ágeis estão testemunhando um crescimento sem precedentes, enquanto fabricantes inflexíveis estão batalhando para manter as portas abertas.
Problemas contínuos na cadeia de suprimentos apontam a necessidade por processos de manufatura flexíveis não apenas em quantidade/embalagem, mas também no potencial para uso de componentes alternativos no caso de uma falta ou carência na cadeia de suprimentos. Como resultado, percebemos uma forte demanda por (mas não limitado a):
• Sistemas de informação e automação bem amarrados e integrados, que reduzem a variação de dias ou horas para poucos minutos;
• A Tecnologia de Carrinho Independente mudou o jogo. Uma máquina, várias aplicações;
• Softwares de supervisão também auxiliam o cronograma de produção com mais eficiência.
Além disso, o último ano consolidou nosso esforço para auxiliar outras empresas a usarem recursos com mais eficiência. Enquanto temos focado já há um tempo em auxiliar clientes a se tornarem mais produtivos e sustentáveis, temos percebido que precisamos ajustar o ritmo. Estamos focando mais em fontes renováveis de energia, tratamento de água e redução de resíduos, e começamos a trazer mais talento com expertises relacionadas. Estamos empolgados com nosso papel em contribuir para um planeta mais sustentável no que essas mudanças significam para nossos clientes, empregados e investidores.
ANI - Como a inovação pode contribuir para o avanço da automação?
CP - Num mundo digital que evolui rapidamente, precisamos olhar para a inovação de uma forma diferente, mais ampla do que simplesmente aplicar a última tecnologia a desafios novos e persistentes, esperando obter um resultado diferente (melhor).
Precisamos inventar e possibilitar o futuro da manufatura de operações industriais, de sistemas automatizados para sistemas autônomos, com a melhor experiência do usuário e modelos inovadores de negócio.
A indústria 5.0 expande o já existente paradigma da indústria 4.0 ao destacar pesquisa e inovação como vetores para uma transição para uma indústria mais sustentável, resiliente e humanizada. A indústria 5.0 transfere o foco do acionista para valores da parte interessada e tenta capturar o valor de novas tecnologias para prover prosperidade além de empregos e crescimento, colocando o bem-estar de empregados como o centro do processo de produção.
Máquinas informadas por IIoT, realidade virtual e aumentada, automação, inteligência autônoma e artificial concedem superpoderes aos trabalhadores. Elas ajudam a criar processos mais eficientes, melhorar a segurança, encurtar o tempo de capacitação e aliviar pressões de mão de obra. Com tecnologias de realidade aumentada, o treinamento pode ser feito em tempo real, o que encurta a curva de aprendizagem e auxilia a manter agilidade junto aos funcionários, permitindo um treinamento na hora certa para resolução de problemas. Também permite que fatores humanos sejam acrescentados a processos que não podem ser bem automatizados.
Essas tecnologias também combatem o capacitismo na produção, tornando vagas de emprego disponíveis para um maior grupo de habilidades, ao remover a exigência de força. Essas tecnologias também melhoram a segurança, ao manter humanos fora de ambientes insalubres, como na manufatura de químicos e aço, e reduzindo lesões repetitivas e ocorrência de acidentes potenciais.
ANI - Durante a pandemia, o investimento em automação foi fundamental para diversas empresas. Como a pandemia contribuiu para acelerar o processo?
CP - Se os últimos dois anos nos ensinaram alguma coisa, é que resiliência, agilidade e sustentabilidade são tijolos de uma organização saudável. Empresas que foram capazes de alterar o curso e regular a produção para cima ou para baixo rapidamente se deram bem durante a pandemia. Enquanto o mundo avança, estamos vendo novas incertezas em torno da mão de obra e da cadeia produtiva que demandam a mesma mentalidade. Volatilidade, incerteza e ambiguidade são o novo normal. Se abordarmos o futuro com ideias de resiliência, agilidade e sustentabilidade, nossos negócios e comunidades vão prosperar.
A pandemia da Covid-19 destacou vulnerabilidades de nossas indústrias, tais como a fragilidade nas cadeias de valores, e a necessidade crescente de tecnologias robustas e flexíveis para tratar essas vulnerabilidades.
Por exemplo, começando em 2020, a pandemia provou que muitos empregos podem ser produtivos tanto de forma remota quanto presencial. Como você gerencia uma planta de produção de outro lugar, limitando a necessidade de pessoas de diferentes lugares se reunirem fisicamente para demandar novos equipamentos, treinar novos trabalhadores ou solucionar problemas? Estamos vendo mais empresas estimulando capacidades de apoio remoto e tecnologias de realidade aumentada para interagir virtualmente com engenheiros de apoio, conduzir treinamentos virtuais, e prover serviços de segurança sem enviar pessoas às fábricas. A capilaridade crescente da IoT e a conectividade de tecnologias nas fábricas vão induzir rapidamente a criação de ambientes automatizados por tecnologias operacionais.
A pandemia também acendeu alguns problemas de cadeia produtiva que estamos analisando atualmente. Globalmente, empresas precisa reconsiderar envio imediato de peças cruciais, iniciativas que antes eram offshore, e estimular investimento em suas localidades para indústrias chave – semicondutores e microchips, por exemplo. Soluções para integrar a manufatura à cadeia produtiva, incluindo soluções de digital thread. Fábricas autônomas ou de controle remoto podem oferecer soluções para problemas de cadeia de produção pela construção de fábricas próximas do usuário final, mas controlando remotamente a produção para centralizar expertise.
ANI - Um dos pontos que serão discutidos no congresso é a inovação e automação como estratégias. Em sua opinião, quais são os caminhos que o Brasil e o mundo precisam trilhar para melhorar o uso dessas ferramentas?
CP - Hoje, o acesso a tecnologias de ponta para automação, conforme mencionei, já possibilita que organizações tragam resultados inovadores a suas aplicações. E a contratação baseada em assinatura, além de ofertas escalonáveis, permitem que essas organizações pensem grande, comecem pequenas e cresçam rápido. Entretanto, também entendo que trazer a cultura da inovação para dentro de empresas, que deve ser iniciativa da liderança, necessariamente demanda mão de obra qualificada. E imagine que a inspiração para inovação tenha objetivos fixos de negócios, tais como agilidade de produção, ganho de qualidade, melhoria de experiência do usuário, e tudo de forma estratégica.
Nesse aspecto, acreditamos bastante na colaboração da Rockwell com a CNI para ter, por meio de instituições educacionais como o SENAI, uma forma de encontrar equilíbrio tanto para inovação quanto para melhoria da educação. Tijolos, para serem preparados para desafios do futuro, precisam se basear sempre em pessoas e tecnologias. Ambos necessariamente precisam ser tratados para obtenção de investimento igualitário, e só assim resultarão num ambiente inovador, saudável e sustentável.
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