Otimizar processos e aperfeiçoar o desempenho de atividades são apenas algumas das vantagens que têm feito as grandes indústrias a aderirem ao uso de tecnologias 4.0. Afinal, a transformação digital deixou de ser um diferencial competitivo e tornou-se uma necessidade. No entanto, entre ganhos de produtividade, transparência dos processos e uma visão mais clara dos negócios, alguns setores industriais ainda enfrentam alguns desafios tecnológicos que os impedem de obter benefícios mais completos da transformação digital e das tecnologias 4.0.
A pandemia de Covid-19 acelerou a adoção de tecnologias, antecipando em três ou quatro anos a adoção das mesmas. Entre as tecnologias mais adotadas estão a inteligência artificial, 5G e a Internet das Coisas. Segundo levantamento da empresa de tecnologia CISCO, entre 2020 e 2030 a IoT deverá movimentar cerca de de US$19 trilhões ao redor do mundo, segundo a CISCO.
“Entre 2020 e 2021, estamos vendo setores críticos, como manufatura e serviços públicos, aumentarem drasticamente seus investimentos digitais. O que pode ter começado como uma resposta urgente a uma nova realidade da Covid-19 que está se transformando em um acelerador de negócios”, disse Kevin Prouty, vice-presidente de grupo de Manufacturing and Energy Insights da IDC, segundo postagem de blog da CISCO. “Este crescimento de dois dígitos que a Cisco IoT está observando se alinha com a crescente importância de uma infraestrutura industrial digital segura e resiliente, especialmente para esses setores críticos”, adicionou Prouty.
Segundo a postagem, assinada por Vikas Butaney, VP, Grupo de negócios de Internet das coisas (IoT) da CISCO, há um aumento significativo nos investimentos em IoT, com 3 vezes mais capital sendo investido em IoT industrial em 2020. A previsão dos investimentos globais em IoT ultrapassam os trilhões de dólares para os próximos anos.
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Analistas da empresa de consultoria Gartner preveem que 47% das empresas planejam investir em novos projetos de IoT, sobretudo para reduzir custos. Para Vinicius Callegari, Head de Desenvolvimento Comercial da GaussFleet, companhia que oferece comunicação entre máquinas pesadas e veículos por meio de dispositivos de IoT, investir em tecnologia significa mais transparência, aumento na produtividade e consequentemente, redução de custos.
No entanto, ainda existem entraves a serem enfrentados pelas indústrias e uma delas é a conectividade.
“No território brasileiro, as siderúrgicas e mineradoras enfrentam desafios diferentes quando o assunto envolve conectividade. As plantas siderúrgicas, em geral, estão melhores posicionadas geograficamente e têm maior disponibilidade de antenas de operadoras quando comparadas às indústrias de mineração”, explica Callegari.
Anderson Aoca, gerente de Indústria 4.0 da Engineering, companhia global de Tecnologia da Informação e Consultoria especializada em Transformação Digital, também enxerga a criação da conectividade como um desafio. “Ainda é necessário um investimento relativamente alto para “iluminar” áreas remotas permitindo a comunicação de dados. Isso tem sido minimizado pelo enfoque que as companhias de Telecom têm começado a dar à cobertura de dados para as indústrias, porém os modelos de negócio ainda estão em construção”, afirma.
Outros pontos apontados por Aoca são a criação de uma arquitetura segura, ou seja, que garanta a cibersegurança em todos os processos de negócio, assim como a definição de um padrão de comunicação. “Existem várias opções tecnológicas e as escolhas devem levar em consideração quesitos técnicos como quantidade de dados trafegados, estabilidade da rede, entre outros”.
Como o IoT pode auxiliar as grandes indústrias?
“A IoT traz flexibilidade e agilidade na aquisição de dados, além disso, potencializa muito a conectividade, pois torna possível coletar dados específicos com investimentos mais baixos. Para implementar uma arquitetura sólida é preciso definir uma plataforma IoT como camada de ingestão de dados que tenha a capacidade de permitir a troca de dados em variados protocolos de comunicação, diz Aoca. “O papel dessa camada é reunir os dados das múltiplas fontes e disponibilizá-los para os demais sistemas da forma mais padronizada possível. Aplicando esse conceito, torna-se possível a criação de arquiteturas híbridas que ampliam a conectividade e ao mesmo tempo trazem aumento da segurança e governança ao negócio”, adiciona.
Para Callegari, a aplicação da IoT é bastante ampla e, segundo ele, passa pelas áreas de segurança, operacional, manutenção, combustível, entre outras, dando abertura à aplicação de outras tecnologias. “A partir do momento que você possui um fluxo contínuo e confiável de captura e disponibilização de informações para a gestão do dia a dia e a tomada de decisão das lideranças, outras tecnologias entram em cena como Big Data e Inteligência Artificial”, explica.
Casos de sucesso: transformação digital e competitividade
No ponto de vista do Head de Desenvolvimento Comercial da GaussFleet, o principal benefício de investir na transformação digital é o aumento da competitividade. “Uma vez que a indústria consegue aumentar a sua produtividade e reduzir custos, ela escolhe se irá para o mercado com preços mais competitivos, mantendo a sua margem, ou se vai incorporar o saving e aumentar essa margem”, diz Callegari.
A plataforma GaussFleet digitaliza e automatiza todo o processo de gestão de máquinas fora de estrada que fazem a logística interna de produção do aço, explica o executivo. “Com o auxílio da GaussFleet as indústrias siderúrgicas têm alcançado 15% de redução no custo de locação de máquinas móveis e 10% de redução no dimensionamento de frota. Sem contar o aumento de eficiência de gestão em até 50%”, conta.
De acordo com Aoca, da Engineering, agilidade e assertividade na execução de tarefas de operação e manutenção, redução de tarefas manuais, aumento de eficiências existentes e criação de novas eficiências, aumento de segurança dos trabalhadores e otimização nos processos produtivos também estão entre os ganhos.
“Sob o ponto de vista do negócio, a transformação digital traz para as indústrias um conhecimento profundo sobre si mesma e sobre seus clientes, melhora a tomada de decisão tornando-a muito mais ágil e eficiente pois passa a ser baseada em dados (Data Driven), eleva a maturidade do negócio como um todo trazendo adaptabilidade aos diferentes cenários econômicos e sociais”, afirma o gerente de Indústria 4.0 da Engineering.
Além disso, Aoca ressalta que a Transformação Digital oferece às indústrias uma visão de negócio totalmente inovadora que traz o cliente (B2C ou B2B) para o centro de todas as operações. “Essa visão permite à indústria conhecer realmente o seu cliente e adaptar-se para atender às suas necessidades. Pode parecer frase de efeito, mas a transformação digital oferece às indústrias a oportunidade de se tornarem realmente Smart Industries”.
Um dos cases de sucesso da Engineering com a tecnologia IoT que vale destacar é a digitalização do processo de gerenciamento de vãos de armazenamento de bobinas metálicas feito para a Novelis, líder mundial em laminados e reciclagem de alumínios. O objetivo era obter mais segurança no processo de medição das bobinas metálicas, que atingem temperaturas acima de 300ºC.
“Utilizamos tecnologias de IoT e integração de sistemas para criar um pátio de resfriamento virtual, onde a temperatura de cada bobina é monitorada em tempo real e o sistema indica o momento adequado para a movimentação das bobinas durante o período de resfriamento das mesmas. Após a digitalização do pátio conquistamos números expressivos como a redução de 80% nos erros de armazenamento de bobinas, redução de 60% no tempo de resfriamento das bobinas e 30% de aumento da produtividade”.
De acordo com Daniel Freire, vice-presidente de Operações da Novelis América do Sul, a solução reforça o principal valor da Novelis: segurança. “Com a aplicação, conseguimos aumentar a segurança dos nossos colaboradores, objetivo principal do projeto. Além disso, o trabalho bem articulado entre diferentes áreas e a rastreabilidade online de todo o processo produtivo ajudam na geração de maior controle, em um fluxo mais linear e em uma produção mais alinhada à demanda de nossos clientes. No final, ganhamos em produtividade e com a redução de custos operacionais”.
Outras tecnologias que também otimizam processos
Para Anderson Aoca, outras tecnologias que otimizam processos são a Robótica Colaborativa e Autônoma, a Simulação com a criação dos Gêmeos Digitais e a Visão Computacional como as principais tecnologias em conjunto com o IoT. “A Inteligência Artificial, Machine Learning e Deep Learning são tecnologias importantíssimas e que podem ser aplicadas ao controle de processos e também em conjunto com as três primeiras citadas, potencializando muito os resultados. Acredito também que daqui um ano e meio as tecnologias de Realidade Aumentada e Virtual estarão totalmente integradas ao dia a dia das indústrias dentro das operações. Atualmente são bastante usadas pelas áreas de treinamentos”, finaliza o gerente de Indústria 4.0 da Engineering.
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