Muito se fala que a automação de processos e funções prevista pelo conceito de indústria 4.0 irá causar a substituição de pessoas por máquinas nas fábricas — o que foi chamado de “apagão” pelo especialista Simon Jacobson, em um artigo no Gartner.
Segundo ele, o conceito de manufatura “apagada” prevê interferência humana mínima dentro dos processos produtivos das indústrias e não é novo. Já em 1982, conta Jacobson, a General Motors aplicou a automação em uma de suas fábricas a fim de aumentar a produtividade e competitividade no mercado. Por mais que surtisse efeito, o projeto se tornou financeiramente inviável e acabou sendo abandonado em 1990.
Desde então a automação dos processos tem sido pauta para as indústrias, o que não significa, de acordo com o especialista, que estamos mais próximos do chamado “apagão” das fábricas. Segundo uma pesquisa realizada por Jacobson, apenas 17% dos entrevistados acreditam que funcionarão completamente em configurações de produção digitais e apagadas até 2025. Enquanto isso, três quartos (79%) consideram suas operações de manufatura compostas por humanos, com cooperação de funcionários e máquinas.
Isso não significa que a automação não é um bom caminho, mas que o trabalho humano não pode ser subestimado. O especialista traz o exemplo da Tesla que tinha como meta a produção de cinco mil veículos por semana em um processo totalmente automatizado e falhou, o próprio Elon Musk disse que faltou intervenção humana para o objetivo ser cumprido.
Levando o contexto em conta, Jacobson conclui que os investimentos em automação precisam ser táticos e graduais. O equilíbrio é necessário, ou seja, é preciso investir apenas em automações que sejam reflexos de oportunidades. Sendo assim, o ideal é começar por processos produtivos e não com um projeto amplo de fábrica “apagada”, para isso, o especialista aconselha:
- Concentre-se em processos apagados, não em fábricas apagadas. A demanda da cadeia de suprimentos por flexibilidade e velocidade da fábrica aumentará à medida que a atividade for retomada após a pandemia. É preciso se perguntar “onde os processos podem estar pelo menos 75% apagados?” Gerenciar a movimentação de materiais se torna um alvo maduro. Eliminar o tempo de permanência entre os estágios de produção ou encurtar o tempo para trazer materiais para as linhas de produção melhora as taxas de produção e impacta positivamente no controle dos níveis de estoque e nas interações com fornecedores.
- Dimensione a abordagem certa. Onde a experiência do operador pode ser melhorada com uma ferramenta digital? As experiências imersivas (AR ou VR) fornecem uma capacidade de “treinador e conselheiro” que combina dados e intuição. Isso cria consistência e compartilha conhecimento - em vez de removê-lo - sem comprometer certos métodos e procedimentos. As mudanças estão prontas para essa abordagem.
- Não reaja. O “não-valor agregado” de hoje é a “sobrecarga inadvertida” de amanhã. A automação de um conjunto de tarefas para diminuir a carga de um trabalhador hoje criará a meta de redução de despesas gerais de amanhã?
- Prepare-se para o que se esconde nas sombras financeiras. As fábricas estão longe de atualizar a tecnologia com a mesma frequência que um aplicativo em seu telefone. A dívida técnica é constantemente negligenciada e os custos de integração são sempre (significativamente) subestimados. Esteja preparado para gastar dinheiro modernizando a tecnologia de operações (controladores lógicos programáveis, drives e outras tecnologias que controlam um processo).
- Olhe além do custo e da qualidade. Focar estritamente em resultados viáveis mínimos e ROI convencional apenas ofusca o potencial e a inovação futura . Use o pensamento não linear para buscar um benefício de “próximo nível”. Considere o seguinte: investir $ 3.000 para automatizar uma operação de uma única unidade tem valor pontual para melhorias de custo e qualidade. Quando combinado com outros investimentos, como análise preditiva, pode ter retorno significativo, seja removendo gargalos na fábrica ou eliminando problemas de qualidade no cliente.
Para o autor, portanto, a tecnologia de automação deve ser usada também para melhorar a experiência dos trabalhos fabris e é esse mindset que deve guiar os investimentos em tecnologia.
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