Esqueça o trabalho braçal, as máquinas paradas por defeitos inesperados e a produção completamente massificada, sem qualquer individualização. As fábricas digitais são diferentes - realidade que começa avançar no presente e terá papel dominante no futuro. É isso o que mostra a Hannover Messe, maior feira de tecnologia industrial do mundo, que acontece até 5 de abril na cidade alemã e deve atrair cerca de 300 mil visitantes, segundo a organização.
O evento já está na melhor idade: começou há 72 anos, com a primeira edição realizada em 1947 como um empurrão para reerguer o combalido país no pós-guerra. Mesmo com a idade avançada, a discussão da feira não poderia ser mais atual. O debate é sobre como criar novos modelos de negócio para companhias que historicamente sempre ofereceram máquinas-ferramenta ou soluções analógicas e de que forma entregar respostas com mais valor aos clientes.
Qualquer semelhança com as discussões em cima da mesa do setor automotivo não é mera coincidência. Trata-se do mais claro efeito da transformação digital no mundo dos negócios. A mudança está em curso e, se não dá para fugir dela, o melhor é entender a maneira mais adequada de abraça-la.
“Hoje falamos aqui muito sobre como as empresas vão atuar neste novo momento, como vão conectar o chão de fábrica à nuvem de dados e gerar receitas não só com a venda de bens, mas com serviços por assinatura”, conta José Borges Frias Júnior, diretor de estratégia da Siemens no Brasil.
A empresa é a maior expositora da feira, com uma área de mais de 4 mil metros quadrados em um dos diversos pavilhões do evento.
O mundo converge
Tecnologias emergentes como Blockchain, Internet das Coisas (IoT), Inteligência Artificial (AI), Big Data, 5G e Analytics entraram de vez para o dicionário da indústria. Essas soluções invadiram a Hannover Messe – assim como já acontece com os salões automotivos ou eventos voltados a bens eletrônicos de consumo, como a Consumer Electronics Show (CES), realizada em Las Vegas. Os setores estão convergindo e outro bom sinal disso é que há presença importante de soluções de mobilidade nesta edição da Hannover Messe.
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Não há mais muros entre os segmentos. Um dos pavilhões mais agitados da feira abrigava justamente as empresas de tecnologia da informação, como IBM e Microsoft, que apresentavam ali soluções para conectar cadeia de fornecedores, levar eficiência para a área logística, aumentar a flexibilidade das fábricas, entre outras. Os enormes estandes das duas empresas abrigavam ainda uma série de outras marcas e negócios parceiros e mostravam cases com clientes. Aparentemente, contar com uma ampla rede de cooperação é uma potência importante nesta nova era industrial.
Borges, da Siemens, aponta que a própria empresa tem investido nessa área. “A cada ano temos mais logos de empresas diferentes dentro do nosso estande”, conta. A companhia vem concentrando esforços no MindSphere, plataforma aberta de IoT que se aplica às mais variadas demandas industriais – a empresa, inclusive, acaba de anunciar parceria global com a Volkswagen para o uso da solução. Segundo o executivo, a tecnologia conta com um ecossistema de mais de 90 parceiros que desenvolvem diferentes aplicativos e soluções de uso da plataforma.
Já pensou em ter um gênio digital?
A Indústria 4.0 agora fomenta um debate sobre criar gêmeos digitais para as fábricas. A ideia é que a planta física tenha uma representação perfeita on-line, sempre atualizada com todos os dados que são enviados à nuvem. Essa “matrix” da operação permite entender oportunidades de melhoria dos processos e ainda detectar novas oportunidades de negócio.
Sensores espalhados pela planta vão gerar dados capazes de indicar se faltam peças para construir um carro, se há indício de que um problema em alguma etapa da operação está para ocorrer ou, ainda, se é a hora de parar uma máquina para uma manutenção preditiva.
Transformação digital é mais do que ganhar eficiência
Como defende a Siemens, para uma organização implementar a transformação digital plenamente, é preciso passar por quatro etapas essenciais: conectar as operações, monitorar todas elas, analisar e predizer e, por fim, detectar novas oportunidades e criar modelos de negócio para aproveitá-las.
“Ganhar eficiência na indústria digital é essencial, mas o ciclo só fica completo se der para gerar valor, criar novos negócios”, diz Borges.
Ele cita um caso da SKF. “Parte das receitas deles vinha da venda de rolamentos enormes para algumas aplicações, que eram muito caros para o cliente. Ao implementar o MindSphere e monitorar o funcionamento destes equipamentos, eles detectaram a oportunidade de oferecer estes produto em um modelo de assinatura, vendendo a hora de rotação, não o componente em si”, conta.
No Brasil, setor automotivo puxa a evolução
Borges avalia que o mercado brasileiro está bons passos atrás do horizonte apresentado na Hannover Messe. “Em geral há muito atraso e, portanto, grandes oportunidades de ganhar eficiência e melhorar as operações”, diz. Segundo ele, um dos grandes impulsos para a evolução da indústria local vem do setor automotivo. Por causa das diretrizes globais, essas fábricas costumam incorporar mais rapidamente as novas tecnologias e, assim, puxar a cadeia de fornecedores, diz o executivo.
Vai demorar algum tempo, mas Borges entende que será possível sair da fábrica, apagar a luz, fechar os portões e, ainda assim, as coisas continuarem funcionando muito bem, obrigado, com a produção a todo vapor. A parte ordinária da operação tende a ser comandada de uma sala de controle. As funções repetitivas hoje desempenhadas por pessoas serão feitas por robôs. “Os humanos estarão em outras tarefas, mais relacionadas com inteligência de dados e com os novos negócios”, resume.
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