Em uma das entradas da fábrica da Pirelli em Feira de Santana, na Bahia, é possível ver um centro de comando inspirado em um cockpit de Fórmula 1. Como fornecedora de pneus para marcas como Ferrari e Mercedes, a empresa italiana trouxe para o chão da fábrica, um centro de comando parecido ao utilizado pelas equipes para se comunicar com os pilotos durante a corrida. O cockpit é o que a marca italiana tem de mais moderno em termos de gestão e captação da dados nas cinco fábricas que possui na América Latina. É também um marco dentro da modernização da fábrica de Feira de Santana (BA), adquirida pela Pirelli em 1986, e que recebeu investimentos para funcionar de modo mais inteligente e eficiente. Ou, nas palavras dos executivos da marca, de uma forma "4.0" ou "Smart Manufacturing".
A partir de quatro grandes telas, o cockpit recebe dados em tempo real de 50 máquinas e dos comandos de trabalho de 900 funcionários que atuam na fábrica baiana. Com tecnologia de computação em nuvem, que armazena os dados recolhidos, e sistemas de machine learning, que processam as informações recolhidas, criou-se um monitoramento da produção mais preciso e em tempo real. "Conseguimos deslocar recursos, priorizar ações, alertar onde estão problemas e quais falhas podem ocorrer em breve", disse Eduardo Bonatto, chefe de produção da fábrica.
O controle não fica restrito ao cockpit. Supervisores podem acessá-lo via tablet diretamente da área em que atuam. Segundo Bonatto, com os sistemas digitalizados, há um aumento médio de 10% de produtividade da fábrica. O executivo também disse que o novo sistema é capaz de medir a performance individual de cada funcionário e se alguém precisa melhorar o trabalho que realiza em termos de "qualidade ou segurança".
Para além do ganho de eficiência operacional, a digitalização dos processos produtivo gerou métricas mais inteligentes – o que auxiliou na redução do tempo de manutenção dos equipamentos. "Antigamente, o funcionário notava um erro, acionava a oficina, ia até o almoxarifado e via se existia a peça lá. Agora, ele vê tudo no sistema, na hora", diz Valter Cremonesi, gerente de engenharia industrial da América do Sul da Pirelli. A precisão na transmissão de dados melhorou após as máquinas ganharem sensores específicos para o monitoramento.
Outra novidade da fábrica de Feira de Santana é o chamado "green button", espécie de "botão digital", que pode desligar instalações quando estas não estão sendo utilizadas. É uma forma de reduzir desperdícios – de energia e água, por exemplo – de máquinas auxiliares que só funcionam em momentos específicos do processo.
Continua depois da publicidade |
Todas as informações coletadas em cada máquina da Feira de Santana está sendo transmitida para as outras 18 plantas da Pirelli pelo mundo. São mais de um milhão de linhas diferentes de dados, que são coletados e compartilhados em tempo real, segundo Daniel Silva, gerente de Smart Manufacturing das fábricas latino-americanas. É possível analisar, por exemplo, se um pneu verde que está sendo produzido na fábrica baiana está alinhado ao padrão de um pneu verde sendo fabricada naquele momento na Alemanha.
O sistema de integração online dos dados chegou à fábrica de Feira de Santana há um ano. É, segundo o diretor industrial global da Pirelli, Francesco Sala, o que coloca a fábrica brasileira em termos comparáveis de tecnologia com as restantes. “Ao digitalizar processos e ser capaz de antecipar manutenções e falhas, conseguimos reduzir pela metade o tempo de reação da fábrica. Por exemplo: se há uma pane hoje em uma parte do processo que demoraríamos uma hora para reagir, agora resolvemos em meia hora”, disse o executivo italiano.
Dentre as tecnologias promissoras que Sala destaca está o uso de realidade aumentada para treinar funcionários. Eles vestem um colete com sensores e aprender a manusear as máquinas em ambiente totalmente digital. Podem simular possíveis falhas e até entender, de modo menos teórico, a quais riscos estão submetidos na operação de sua função específica.
As inovações da marca, envolvendo transformação digital, estão sendo desenvolvidas em parcerias com universidades e startups, inclusive no Brasil. “Ouvimos muitas ideias de startups que podem nos ajudar no negócio e as chamamos para desenvolver o produto de forma conjunta”, diz Sala. Empreendedores selecionados e funcionários da Pirelli podem se comunicar por um aplicativo interno, uma espécie de “rede social” da marca para pautar novas inovações e debater novas ideias.
Digitalização
A digitalização dos processos produtivos da Feira de Santana, que irá ser replicada na fábrica de Campinas (SP), inserem de forma mais relevante o Brasil dentro da nova estratégia global da Pirelli, segundo o CEO Marco Provera. Nos próximos anos, a marca quer aumentar a receita dos produtos do segmento High Value, pneus de alta performance com tecnologia agregada.
Em 2017, o segmento representou 57,5% das receitas da Pirelli no mundo e empresa quer que essa fatia cresça para 63% até 2020. É no segmento High Value que a Pirelli destina 90% de seus investimentos em pesquisa e desenvolvimento. São os pneus fornecidos para marcas de luxo - Ferrari e Lamborghini, BMW, Mercedes e Audi - e modelos personalizados para o consumidor final (como os coloridos da linha Color Edition). “Não é só uma questão de agregar valor ao pneu. É uma estratégia para agregar tecnologia em todo o processo produtivo, em todos os serviços que podemos oferecer”, diz Sala.
Com o uso de big data, computação em nuvem e machine learning, a Pirelli quer trabalhar de forma mais próxima às montadoras. Hoje, a empresa já consegue criar protótipos digitais de pneus, testá-lo e oferecer ao clientes, antes da produção ser colocada em prática. A Pirelli encampa o discurso de quer vender não só um pneu, mas também tecnologia. “Hoje já sabemos o carro que a Mercedes irá lançar em 2021 e estamos desenvolvendo tecnologia específica para isso”, diz Sala.
*A repórter da Época Negócios viajou para a Bahia a convite da empresa.
Gostou? Então compartilhe: