Barreiras para Revolução 4.0 no Brasil e a falta de um ícone brasileiro no panorama internacional

No panorama internacional nomes como Elon Musk, Jeff Bezos, Jack Ma são ícones da Revolução 4.0, porém qual seria ícone brasileiro?

Por: Wesley Sa Teles Guerra      01/02/2021

Pouco depois de começar o ano de 2021, a notícia de que a fortuna de Elon Musk, fundador da multinacional Tesla e da SpaceX, havia superado a de Jeff Bezos, CEO da Amazon, ganhou destaque na mídia internacional, consolidando um símbolo de uma nova era e reforçando o papel da tecnologia e da inovação.

Uma mensagem tácita de que a Revolução 4.0 segue a bom ritmo, e de que deve dominar o mercado financeiro internacional nos próximos anos, apesar do impacto da pandemia de coronavírus e do negacionismo oriundo das resistências de determinados setores da população em relação à pesquisa e inovação, algo que ficou refletido nas dúvidas sobre as vacinas desenvolvidas em tempo recorde e no crescimento de movimentos antivacinas.

Embora sua primeira posição tenha durado pouco tempo, essa concorrência entre as fortunas derivadas das novas tecnologias são um reflexo do processo evolutivo da Revolução 4.0 e das transformações produtivas ao redor do mundo.

Ao longo das diferentes etapas da Revolução Industrial, uma série de ícones se consolidaram como importantes autores e representantes do processo refletindo o processo de acumulação capitalista e a evolução do sistema financeiro internacional.

Na primeira etapa da Revolução Industrial, James Watt e Richard Trevithick são referências devido ao seu papel no desenvolvimento do motor à vapor e da locomotiva. Já na segunda etapa podemos citar a Henry Ford e posteriormente a Taichi Ohno (Toyotismo) pela sua implementação das cadeias e métodos de produção em massa. Na terceira etapa, Bill Gates entre outros são um reflexo da informatização a escala mundial e, nesta última etapa, nomes como Elon Musk, Jeff Bezos, Mark Zuckenberg ou Jack Ma ganham destaque pela sua atuação diante das novas tecnologias da quarta revolução.  Nesta lista, salvo James Watt, houve um enriquecimento paralelo à função realizada dentro do desenvolvimento de cada etapa e sua consolidação como dentro do processo, e por este motivo é importante acompanhar o desenvolvimento da carreira destes atores.


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O fato de existir um maior número de implicados e uma maior dispersão geográfica, é uma característica própria dessa etapa da Revolução industrial, onde houve uma crescente progênie de atores devido a globalização das atividades de produção, pesquisa e finanças. Ainda assim, a falta de mecanismos internacionais acabam por promover uma concentração de poder e um incremento da dependência de determinadas nações neste processo.

Diante desse panorama, a necessidade de programas de apoio a ciência e pesquisa é fundamental para inserir uma nação ou região dentro do cenário da Revolução 4.0, assim mesmo uma renovação na legislação referente a patentes desenvolvidas e o apoio as iniciativas tais como startups e pesquisas é fundamental, caso contrário acabam limitando ainda mais a ação de players locais.

Por esse motivo, países como o Brasil são leitores e não protagonistas de notícias tais como as que envolvem a fortuna de Elon Musk e outros ícones dessa revolução, mesmo quando João Conrado do Amarado Gurgel já havia apresentado o primeiro protótipo nacional de carro elétrico em 1974.

A falta de incentivo a pesquisa e inovação, a morosidade e dificuldade para patentear produtos, a perda de capital intelectual por falta de oportunidades, mantêm o Brasil preso e dependente da tecnologias desenvolvidas em outros países, assim mesmo a indústria nacional, que sofre com um crescente processo de desindustrialização, é incapaz de dar este salto quantitativo e qualitativos, pela própria necessidade de importar insumos para seu funcionamento além de outros fatores que incidem diretamente em sua competitividade. Exemplo disso é que mesmo o Brasil participando da produção internacional automotiva assim como outros setores, não possuí uma marca nacional posicionada internacionalmente tal e como acontece com novas potências emergentes como a Índia ou a Coréia do Sul.

O Brasil acumula anos de descaso com a educação e a inovação, e a modificação e redução de programas tais como o Ciências Sem Fronteiras ou as bolsas para doutorado do CAPES e das fundações de pesquisa, somente agravam essa situação. Embora seja difícil encontrar alguma pesquisa internacional em desenvolvimento de grande porte, na qual não exista a participação direta de um cidadão brasileiro, porém, estes normalmente estão vinculados as empresas e instituições estrangeiras.

Por outro lado, no panorama interno, existe também uma grande defasagem em relação a participação privada em termos de pesquisa, inovação e desenvolvimento, havendo uma grande concentração em centros normalmente ligados a grandes universidades públicas do país, que a cada ano vêm seu orçamento reduzido.

Motivo pelo qual é preciso, realizar grandes mudanças para fomentar o protagonismo do Brasil na quarta Revolução Industrial e deixar de ser um mero espectador dos avanços realizados em outras nações.

Estimular a pesquisa, valorizar a educação, promover a retenção de talentos, apoiar as iniciativas e facilitar a ação tanto do setor público quanto do setor privado é prioritário, para de fato produzir mudanças no país e conseguir o tão sonhado desenvolvimento, reduzindo o grau de dependência de outras nações ou empresas. Certo é que não se pode competir em todos as áreas, ainda assim o país não pode, nem deve concentrar toda sua atividade na exportação de recursos e matérias primas ou manufaturas de pouca complexidade, mas estimular até mesmo dentro desses setores, a inovação continua.

Por último é preciso eliminar as barreiras que por tanto tempo protegeu ao mercado, mas que acabaram prejudicando diversos setores e gerando uma dependência continua seja interna (em relação a demanda e ação do Estado) ou externa em relação a necessidade de importar tecnologia que não é produzida no Brasil, por falta de estímulos e uma adequação a realidade produtiva internacional.

Caso não existam mudanças, sempre seremos espectadores, sempre estaremos um passo atrás de outras nações e teremos grande dificuldade de materializar as mudanças necessárias para de fato produzir uma quarta Revolução Industrial e ter nosso próprio “Elon Musk” brasileiro.

*O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.

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Wesley Sa Teles Guerra

Wesley Sa Teles Guerra

Bacharel em Administração, pós-graduado em Ciências Políticas e Relações Internacionais, MBA em Marketing Internacional, mestre emPolíticas Sociais e Intervenção Sociocomunitária e Migrações, e doutorando em Relações Internacionais.