Nos próximos 18 meses, a indústria brasileira de mineração e metais será impactada por tendências essenciais: centralização no propósito, adaptação à disrupção, liderança na transição energética, revisão das regulamentações, investimento em formação especializada e expansão da infraestrutura, como adesão da Inteligência Artificial Generativa (Gen AI). Essas conclusões são destacadas no relatório anual Tracking the Trends 2024, da Deloitte. O estudo oferece insights práticos para auxiliar as empresas do setor a superarem desafios e capitalizarem em novas oportunidades.
“Ao entrarmos em 2024, a indústria encontra-se no centro de uma matriz complexa de desafios e possibilidades. A pesquisa traz insights sobre como o setor está lidando com questões críticas, como escassez de oferta, desenvolvimento de capacidades e estratégias ESG, tecnologia emergente e a incerteza da economia global. Cada uma dessas tendências tem um papel a desempenhar na orientação das organizações para atingirem os seus objetivos, à medida que procuram capturar e transmitir o valor que a indústria gera para toda a sociedade”, explica Patricia Muricy, sócia-líder da Indústria de Mineração da Deloitte.
O propósito no centro das atividades
Um importante passo para a indústria no Brasil é colocar o propósito no centro da mineração e dos metais, criando uma dinâmica social e tomando para si a narrativa de uma mineração responsável. Com a procura de determinados metais críticos a ultrapassar a oferta no curto prazo, a indústria necessitará, provavelmente, buscar maior capacidade em regiões anteriormente não minadas. Diante dessa expectativa, é necessário que as organizações insiram propósito em todas as ações e gerar valor a todas as partes interessadas, sobretudo os povos originários.
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“O crescimento orientado por propósitos para construir confiança será mais importante do que nunca. Não se trata apenas de criar valor para os acionistas, mas de gerar valor para todos os stakeholders, incluindo empregados, consumidores, comunidades ao redor, governo e sociedade como um todo, além da importância do respeito aos povos originários. A verdadeira transformação ocorre quando se incorpora um propósito significativo em cada ação realizada, seja na exploração de uma mina ou em qualquer empreendimento. A abordagem vai além de gerar impactos positivos com ações de curto ou médio prazo, é um compromisso com a construção de um legado”, explica Daniel Almeida, diretor de Gestão de Riscos na Deloitte.
Navegando pela incerteza global
A elaboração de estratégias dinâmicas e a incorporação dessas ações podem ajudar a permitir que o setor de mineração e metais se adapte a cenários em mudança e abrir margem para seguir diferentes caminhos, à medida em que as situações e as prioridades mudam. Neste cenário, o Brasil se destaca positivamente como um local democrático, localizado em uma região livre de conflitos geopolíticos e por configurar entre as 10 maiores economias do mundo. Assim, o país possui elementos que o diferenciam nesse cenário desafiador e, ao adotar uma perspectiva otimista, pode capitalizar sua posição estratégica e reforçar sua contribuição para um ambiente mais equilibrado e promissor para as organizações.
“Os cenários são exercícios para questionar e orientar a definição de uma estratégia, mas em um mundo cada vez mais volátil, torna-se imprescindível a capacidade e a agilidade das organizações para mudar os planos e seguir novos rumos, sempre que uma nova oportunidade surge ou um outro fator muda de direção. A liderança precisa estar preparada para conduzir essas mudanças de rota com tranquilidade.”, explica Patricia Muricy.
Iniciativas rumo ao carbono zero
Como fornecedoras das matérias-primas necessárias para criar um futuro sustentável, as empresas de mineração e metalurgia estão perfeitamente posicionadas para liderar o caminho em termos de sustentabilidade. De acordo com o levantamento, as organizações que agirem rapidamente poderão ser recompensadas através de maior resiliência e oportunidades de geração de valor. As companhias devem ir além do combate às emissões como uma questão autónoma e aplicar uma abordagem ampla e inovadora para mitigar as alterações climáticas, incluindo a criação de planos de ação para uma transição climática justa, que traga avanços para a sociedade, enquanto respeita as comunidades envolvidas Isso implica em garantir que as mudanças para reduzir os impactos ambientais não prejudiquem grupos sociais, mas, sim, gerem benefícios para todos, promovendo o desenvolvimento sustentável e o bem-estar geral.
“O Brasil tem um ambiente favorável para a transição energética e está entre os que mais produzem energia limpa. O país precisa aproveitar toda a infraestrutura que já foi construída e ocupar um lugar de destaque neste debate. Apesar de superar os demais países em desenvolvimento, se tornando referência mundial da transição para uma matriz energética sustentável, o mundo não fala sobre o nosso potencial. Isso é devido à dificuldade que o Brasil tem de criar uma narrativa consistente”, afirma Maria Emília Peres, líder das Ofertas Integradas para Clima, Sustentabilidade & Equidade e do GreenSpace Tech da Deloitte.
Colaboração para repensar a regulamentação
Os processos de licenciamento para mineração podem durar décadas. Embora seja importante que os projetos passem por avaliações minuciosas, é necessária uma nova abordagem para fornecer minerais críticos dentro de um prazo que reflita as metas de zero emissões líquidas para 2050. Para isso, o estudo aponta que será preciso desenvolver um conjunto otimizado de projetos com as tecnologias certas, juntamente com um processo de candidatura e revisão integrado e simplificado. Também é importante fazer mais do que colaborar com as comunidades através de contrapartidas obrigatórias, e estabelecer parcerias que proporcionem a participação direta tanto em projetos quanto nos resultados. Mas isso não é tudo. Se tratando de regulamentações, é preciso analisar de modo aprofundado.
“A Reforma Tributária, por exemplo, tem que ser muito bem avaliada. É preciso entender qual será o impacto real que ela trará ao setor de mineração. As novas diretrizes colocam o imposto seletivo de 1% sobre a produção, mas não especifica qual será o valor a ser considerado como base de cálculo do imposto. São muitas as dúvidas quanto à aplicação do tributo. Por isso, as organizações devem trabalhar de uma forma mais proativa, junto ao governo, para desenvolver uma regulamentação com um modelo inteligente e que funcione para o setor”, avalia Monique Almeida, sócia de Tax da Deloitte.
Enfrentar os desafios da mão-de-obra
Com a escassez de competências e o envelhecimento dos profissionais, mineradoras e metalúrgicas deveriam repensar a forma como abordam os desafios da mão-de-obra. Uma maneira é mudar o foco nas organizações de funções para habilidades. Com a crescente importância da agilidade e da flexibilidade no local de trabalho, separar algumas tarefas das descrições de cargos permite que as empresas aproveitem toda a gama de capacidades dos colaboradores e encontrem novas formas de trabalhar. Um fator significativo e que deve ser levado em consideração, é a colaboração com as universidades para produzir currículos e educação profissional que se alinhem com as necessidades do setor. Mas se por um lado temos escassez de mão de obra, por outro temos novas tecnologias potencializadas pela conectividade e tecnologias exponenciais que abrem um enorme leque de oportunidades para atração e capacitação de profissionais, acessando um público que até o momento teve uma participação limitada no ambiente de mineração.
“Com a adoção de novas tecnologias, potencializadas pela conectividade, é possível promover a inclusão de grupos que até então não viam um futuro na mineração, como pessoas com deficiência. Se antes a acessibilidade era comprometida em uma mina por questões técnicas ou até mesmo de segurança, hoje em uma operação remota isso é uma grande oportunidade para promover a diversidade e a inclusão”, diz Patricia Muricy.
Trazer a Gen AI para a mineração e os metais
Capitalizar as oportunidades atuais e futuras será fundamental para a indústria da mineração. É o caso da adoção da Inteligência Artificial Generativa, que apresenta uma série de possibilidades, incluindo a abordagem da segurança energética e a melhoria da rentabilidade; a geração de eficiências operacionais e resiliência; e a redução de emissões. A indústria de mineração e metalurgia pode recorrer a outras indústrias que já aplicam a tecnologia para práticas e casos de utilização de alto impacto, como a forma como a Gen AI pode ajudar as empresas a navegar em cadeias de abastecimento complexas, desbloquear o valor dos dados e transformar as suas forças de trabalho. As empresas devem determinar quais casos de uso são mais relevantes e podem ser dimensionados para obter o maior retorno do investimento. Mapear e priorizar implementações dessa forma também ajudará a estabelecer se uma abordagem de construção ou compra é a melhor.
“Adotar a Gen AI nesta conjuntura vai além de se obter uma vantagem competitiva no presente, mas também cria uma base para o crescimento futuro, investindo na força de trabalho. Existem vários usos para a geração de IA que podem transformar a maneira como as mineradoras e metalúrgicas operam ao longo do tempo, desde a mudança na forma como os profissionais atuam até a forma como as empresas e suas cadeias de valor operam. As oportunidades e aplicações também abrangerão diferentes equipes e funções de negócios, não apenas em áreas corporativas, mas também em engenharia e, potencialmente, na operação. O avanço da tecnologia e das possibilidades de aplicação motivam muitos líderes da indústria a se engajarem em projetos de Pesquisa e Desenvolvimento, criando uma rede forte de colaboração e parcerias e, ao mesmo tempo, endereçando a demanda pelo acesso às novas tecnologias com programas abrangentes de democratização”, analisa Tim Wiesel, sócio-líder de Inteligência Artificial e Dados da Deloitte.
*Imagem de capa: Depositphotos.com
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