A indústria 4.0 possui o potencial de revolucionar a linha de produção de qualquer empresa. Entretanto, essas novas oportunidades chegam acompanhadas de novos desafios. O principal deles é a segurança.
A indústria 4.0 já está preparada para lidar com os maiores desafios de segurança? Na medida que as tecnologias disruptivas alcançam novos índices de maturidade, os riscos de exposição à rede também são elevados.
Então, quais são os maiores desafios da segurança na indústria 4.0? A Associação Brasileira de Internet Industrial (ABII) entrevistou um especialista na área para saber mais sobre o tema. Confira:
Uma análise aprofundada da segurança
O entrevistado convidado pela ABII é o Daniel Aviz Bastos, gerente de segurança de informação da TOTVS. A entrevista foi dividida em sete tópicos, que procuraram tratar em detalhes quais são os maiores desafios de segurança da indústria 4.0.
Desafios da segurança na indústria 4.0
Daniel iniciou a entrevista abordando os principais desafios de segurança da indústria 4.0 e explicou o motivo pelo qual a preocupação deve ser maior do que antes.
“A análise consiste em dizer, que independente de ser indústria 4.0 ou não, a segurança é fundamental, para que tudo possa operar conforme o planejado”, explica.
Acontece que na indústria 4.0, a exposição ao mundo digital é maior e o maquinário da indústria está inteiramente conectado à rede. Portanto há um risco novo, o de prejudicar o ambiente industrial.
O especialista acrescenta que a indústria atual foi modelada pensando em soluções isoladas e não no ambiente como um todo.
Por isso, ele aconselha as indústrias que pretendem ingressar ou estão acelerando a transformação digital a seguirem alguns cuidados importantes. Antes de ingressar, é importante que primeiramente se compreenda a fundo toda a infraestrutura já existente.
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Volume de dados – Indústria inteligente x parque fabril antigo
Conforme explicado por Daniel, a indústria inteligente precisa se atentar a um ponto crucial, que é a segurança no fluxo de dados.
Naturalmente a quantidade de dados em circulação é muito maior, isso por si só não significa um maior risco à segurança (desde que a quantidade seja suportada pela rede). Entretanto, os protocolos de segurança precisam ser atualizados.
Conforme explica o entrevistado:
“Os olhares precisam ser diferentes, as plantas novas já são moldadas para a nova realidade, as antigas não. Os protocolos antigos não conversam com as tecnologias atuais, e terei a falsa sensação de segurança.”
A indústria que atuava com uma infraestrutura mais antiga precisará adequar tecnologias para fazer o interfaceamento entre as antigas e novas tecnologias. Somente assim os dados poderão fluir de forma saudável e segura.
O medo da falta de segurança
Questionado a respeito do medo quanto à falta de segurança dentro do ambiente industrial, Daniel foi sucinto em dizer que o medo se resolve de forma técnica, com estudos aprofundados da infraestrutura.
Mas que sim, é plausível, isso porque os cenários possíveis de desastre são muito maiores na indústria inteligente do que na convencional.
“Antes os medos maiores eram incidentes de segurança, que poderiam prejudicar o funcionamento de alguns equipamentos, como um notebook ou servidor. Já na indústria inteligente, é possível parar tudo na fábrica e até mesmo colocar vidas em risco, no caso da área química, por exemplo”, completa.
Boas práticas na segurança
Com relação às boas práticas de segurança na indústria conectada, o especialista observa que não há padrões exatos para esse tipo de cenário:
“Os ambientes são bastante diferentes, o que torna a realidade das indústrias bastante distinta. As soluções de segurança devem ser moldadas de forma individual, observando a realidade de cada indústria.”
O que existem atualmente são novas soluções sendo desenvolvidas para aprimorar a segurança das indústrias. Empresas que antes vendiam soluções de segurança corporativa, agora investem em segurança para indústrias em grande escala.
O novo papel do TI
A TI (Tecnologia da Informação) vive uma nova realidade com a chegada da indústria 4.0 e agora o papel dessas equipes é mais importante do que nunca.
Daniel acrescenta que nesse novo modelo, é fundamental que as áreas sejam divididas entre TI e OT (do inglês – Tecnologia Operacional). Essas áreas precisam trabalhar de forma totalmente alinhada e integradas.
“A TI é responsável pelo tratamento de dados gerados pela indústria, enquanto a OT é responsável por manter o ambiente industrial produzindo de forma eficiente. Essa diferença precisa estar clara”, acrescenta.
O entrevistado fez uma comparação entre o momento atual e a internet nos anos 90. Todo o cuidado de adequação que existiu naquela época, deve ser tomado também nos dias atuais, pensando sempre na expansão da tecnologia.
A realidade de cada indústria
Não há mágica, nem mesmo padrões específicos, a visão do especialista é a de que cada empresa deve ser observada individualmente para que as suas soluções possam ser implantadas.
“Novos protocolos podem (e devem) surgir, compartilhando boas práticas de gestão da tecnologia, mas não é algo que deva ser seguido cegamente”, comenta Daniel.
A real necessidade da empresa deve ser o foco na tomada de decisões, e essa deve ser a base da infraestrutura moldada pelo alinhamento entre TI e OT. O planejamento é a fase mais importante da indústria inteligente.
Tecnologias da TI vivenciadas na indústria
No último dos tópicos da entrevista, Daniel procurou abordar como as tecnologias desenvolvidas para a área de Tecnologia da Informação adentraram o ambiente industrial, desde a chegada da indústria 4.0
Tecnologias como a IIoT já foram moldadas para o ambiente industrial, porém, tecnologias como a computação em nuvem e 5G, entre outras, não foram planejadas diretamente para a indústria.
Hoje essas tecnologias disruptivas fazem parte da realidade industrial, oferecendo possibilidades nunca antes experimentadas. O entrevistado garante que todas podem trazer ganhos significativos, mas também observa que:
“Cada caso é um caso, cada indústria está em seu universo de riscos. Algumas terão mais automação, outras menos, é preciso avaliar a necessidade de cada uma, e como essas tecnologias alteram o risco da operação assim como os ganhos obtidos com a sua adoção”.
*Imagem de capa: Depositphotos
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