Depois de passar por um período difícil, com a redução de pedidos durante a pandemia e desistência da Boeing de comprá-la, a Embraer tem se destacado novamente no mercado. A exemplo disso está o jato executivo Phenom 300 que, em agosto de 2023, se tornou o mais popular dos Estados Unidos, com 360,3 mil pousos em 12 meses. Com informações da Época Negócios.
A aeronave desbancou pela primeira vez o jato Citation Excel, fabricado pela americana Cessna, que teve 1,4 mil pousos a menos. No entanto, isso só aconteceu porque o Phenom 300 que pode transportar até nove passageiros, gasta menos combustível, custa cerca de 30% a menos que o Citation, tem menos despesas de manutenção, é mais rápido e tem maior autonomia de voo.
Em entrevista concedida para a Época Negócios, Luiz Marinho, vice-presidente da companhia, conta que há 20 anos as coisas eram muito diferentes. Para se ter uma ideia, para montar uma aeronave usavam-se de 80 mil a 100 mil desenhos.
Hoje em dia o desenho é entregue ao time de produção de forma totalmente digital, em 3D. Para isso, uma trava no sistema garante que ele seja acessado somente pelo operador devidamente autorizado, treinado e qualificado para cada procedimento.
Esse sistema garante que a versão do projeto acessada pelos operadores seja a mais atualizada. Além disso, contribui com a sustentabilidade ambiental da produção, pois dispensa totalmente o uso de papel.
Digitalização e automação
A Indústria 4.0 – que está diretamente ligada ao processo de digitalização e automação e, também, ao avanço rumo à sustentabilidade, tem sido uma grande aliada da empresa.
Esse movimento ganhou força a partir do ano 2000, quando a Embraer se tornou pioneira no país em usar ferramentas de realidade virtual para o treinamento de pilotos das suas aeronaves. Para isso, o aprimoramento do sistema da indústria digital é contínuo, com ganhos incrementais em cada metodologia. Os ganhos de eficiência aparecem na redução do ciclo de produção, que chegou a 17% em 2022 ante 2021.
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“O mundo todo conhece a tecnologia de nossos aviões. Então, temos aí um time – existe muita capacidade e muita inovação na linha de produção, que está totalmente conectada com a engenharia que desenvolve os produtos. Temos que buscar constantemente soluções técnicas para garantir que o nosso processo produtivo esteja também no mais alto nível de tecnologia”, disse Marinho à Época.
Da realidade virtual à nanotecnologia
Dentro da Embraer, a Indústria 4.0 fica sob responsabilidade da área de operações e é liderada pela engenharia de manufatura.O processo foi definido dessa maneira para garantir que a empresa traga inovações não só para a linha de produção, mas para todas as atividades e unidades.
Ainda segundo a publicação, o trabalho da engenharia de manufatura não termina com a entrega do avião. O pós-venda, por exemplo, é super bem trabalhado para garantir o acesso fácil a peças de reposição e facilitar a manutenção.
E é aí que a inteligência artificial entra, por meio do sistema Ikon, desenvolvido pela Embraer, que utiliza armazenamento em nuvem e análise de alto volume de dados para fazer a manutenção preditiva dos jatos E-Jets, detectando possíveis tendências de não conformidade para fazer correções antes que os problemas surjam. O ganho de produtividade em análise e processamento de dados dos aviões é de 96%.
Além disso, a base da tecnologia de manufatura utilizada pela Embraer é o sistema MES (Manufacturing Execution System), um software dinâmico que organiza, controla e monitora os processos de produção. Entre algumas das tecnologias usadas pelas companhia, está o Programa de Excelência Empresarial, o P3E, criado em 2007 com base nos conceitos do lean manufacturing.
Outra metodologia que faz parte da gestão da produção é o shop floor management, adotado em 2020. O principal resultado desse tipo de gerenciamento é a identificação mais rápida e clara dos problemas, o que possibilita uma resolução mais rápida também.
A nanotecnologia também está inserida nas tecnologias que a Embraer utiliza. Atualmente, a companhia trabalha no desenvolvimento de uma tecnologia de aquecimento eletrotérmico baseada em nanotubos de carbono (CNT, na sigla em inglês) para sistemas de proteção contra o congelamento de estruturas externas da aeronave. O sistema, mais leve e cuja produção é mais sustentável, é uma aposta para tornar os aviões elétricos mais viáveis.
Em 2022, a empresa também anunciou uma parceria com a Toyota do Brasil para a aplicação de fundamentos e conceitos do Sistema Toyota de Produção (TPS, na sigla em inglês) em sua operação, para eliminação de desperdícios e ganho de eficiência operacional. O sistema tem como objetivo identificar e resolver problemas nos mais diversos ambientes e situações, podendo ser aplicado a qualquer atividade em uma organização, inclusive as administrativas.
A formação dos colaboradores também é levada em consideração pela companhia que, recentemente, lançou a academia de engenharia de manufatura, para concentrar os treinamentos dessa área. Nos processos de capacitação na linha de montagem e na manutenção dos aviões já são usados, desde 2020, ambientes de realidade aumentada e sistemas de gêmeos digitais. Essas tecnologias criam cópias digitais idênticas de um sistema ou de um objeto para que seja possível fazer uma manipulação simulada. Assim dá para treinar e evitar erros nos encaixes de peças, por exemplo.
“Agora, estamos navegando nas possibilidades da inteligência artificial. Começamos a aplicar técnicas para melhorar nosso processo, trazendo mais qualidade, facilidade para os operadores e eficiência. É uma oportunidade gigantesca, temos uma avenida enorme para explorar”, disse Marinho à Época.
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