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Q&A: Como posso tornar minha produção inteligente?

Mike Buchli, especialista em fabricação inteligente da SolidWorks, conta como pequenas empresas podem se tornar inteligentes respeitando sua própria jornada digital de acordo com suas necessidades.

Por: Karina Pizzini/ Especial CIMM e Ind4.0*      Exclusiva 14/04/2023 

Embora tecnologias 4.0 como inteligência artificial e analytics, simulação e digital twins sejam temas constantes em conferências e eventos de design, software, negócios ou tecnologias industriais, muito ainda precisa ser aprendido e disseminado sobre o tema. Entre tanta informação sobre essas tecnologias, muita coisa se perde no espaço e se torna inimaginável para muitas empresas de pequeno porte que buscam soluções eficientes para suas produções. O mesmo ocorre com os dados, de total importância para a manufatura inteligente, porém, se não forem bem utilizadas, são só informações ao vento. 

A coleta e o melhor uso dos dados, no entanto, segue sendo um dos grandes desafios da pequena e da grande indústria. Ainda assim, muitas empresas correm para garantir a melhor forma de capturá-las e analisá-las para melhores tomadas de decisões. Afinal, que tipo de dado eu preciso para minha produção ser bem-sucedida? Segundo Mike Buchli, Portfolio Manager, SolidWorks, da Dassault Systèmes essa é a grande pergunta para o sucesso. 

Em entrevista cedida à editora dos portais CIMM e Ind4.0 durante o 3DExperience World 2023, ocorrido em fevereiro, em Nashville, Estados Unidos, o gestor e especialista em fabricação inteligente da SolidWorks conta como pequenas empresas podem se tornar inteligentes respeitando sua própria jornada digital de acordo com suas necessidades. Passo a passo. 

Com longa experiência no setor metalmecânico, Mike Buchli, Portfolio Manager, SolidWorks, da Dassault Systèmes, concedeu uma entrevista exclusiva ao Grupo CIMM. Imagem: Divulgação/Dassault Systèmes.

Confira a entrevista editada para melhor compreensão do leitor:


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Qual a importância dos dados para pequenas e grandes empresas na gestão das suas fábricas?

Mike Buchli: Parte interessante das indústrias é que cada uma tem sua própria jornada, algumas mais avançadas tecnologicamente, outras estão chegando agora. Mas também depende do mercado em que estão inseridas. Quando você olha para os dados, nós temos um cenário em que há muitos dados, onde [por exemplo] tenho dados [provenientes] de diferentes partes do meu processo e eu não sei como processá-los, e, o outro extremo, em que não tenho nenhuma informação vindo até mim e eu não sei como tomar uma decisão. Então, parte do balanço, e parte do que vemos de como são os dados e como eles são transferidos, é procurar o “sweet spot” [em tradução livre, o “lugar doce”, ou o melhor lugar] para cada jornada de fabricação.

Então, embora eu possa pegar cada pedaço de dado que eu quiser, que tipo de dado exatamente eu preciso para ser bem-sucedido?

E o desafio que vemos é de indústrias lidando e tentando entender qual parte desses dados as farão bem sucedidas. A chave é realmente descobrir qual dado é importante para a sua fábrica (ou vertical), qual [dado] é importante para o seu sucesso (na sua própria jornada digital).

Mas se você não tem nenhum dado, nem consegue descobrir isso. Portanto, a primeira chave é capturar dados.

Enquanto pequenas indústrias ainda sofrem para iniciar uma jornada digital, é possível se tornar uma fábrica inteligente aos poucos? 

A jornada para cada um é sempre sobre como você absorve a informação que entra, então se eu sou uma empresa com duas máquinas, e se o mais importante para mim é a sobrecarga de custo e tempo, então eu ainda tenho dados a partir disso. (...) Então, se você tem uma empresa pequena, com duas máquinas, por exemplo, você ainda tem que fazer vendas, tem que descobrir como produzir eficientemente - no tempo e no orçamento - e ainda tem que encomendar material e etc. Essa é só uma uma escala menor do que uma grande empresa com mais máquinas teria. O problema ainda é o mesmo, (…) o que muda para as grandes empresas é a larga escala do problema, mas o problema segue sendo o mesmo.

Portanto, pode ser tão simples quanto controlar o planejamento de recursos. Recebo um número x de vendas, sei que tenho um número x de material. E cabe em um cronograma. Isso pode ser bem básico, dois pedidos por mês ou dois pedidos por ano, dependendo da quantidade, uma grande empresa pode passar de 2.000 pedidos por mês. É apenas uma escala maior do mesmo problema.

Como a plataforma 3DExperience pode colaborar para a melhoria de processos de pequenas a grandes empresas? O que os usuários podem esperar da plataforma ao usá-la para colaborar na sua transformação digital?

Eu posso compartilhar minha própria experiência. Eu fui um cliente 3DExperience Works, há oito anos, antes de vir para cá [trabalhar na Dassault Systèmes], e nós éramos uma indústria pequena, tínhamos 12 pessoas e estávamos montando grandes sistemas de reciclagem em plantas do tamanho desta sala, produzindo os equipamentos, e estávamos competindo com empresas que eram muito maiores do que nós. Nós tínhamos 3 engenheiros, eles tinham 30. Então, um dos benefícios para nós com a plataforma - naquela época, há 8 anos - era podermos usar ferramentas para igualar o campo de jogo contra corporações muito maiores, que nos permitiam ser mais acessíveis aos nossos clientes, nos comunicar melhor, colaborar mais, ter melhor relação com eles, sem ter que carregar toda essa sobrecarga para configurar internamente. Estávamos usando a tecnologia para agilizar e melhorar nossos processos.

Então, quando você é uma companhia pequena, seja de manufatura ou design, se eu sou uma pequena empresa e tenho um limite de segurança e compartilhamento de dados, poder usar ferramentas da plataforma me permite não só ter dados concentrados em um só lugar, como me permite comunicar e colaborar com qualquer um em qualquer lugar. E ter a presença de uma grande empresa, maior do que eu realmente sou - isso é um benefício, pois assim vou ganhando market share para me tornar uma empresa maior. 

A grande chave para nós foram os componentes de colaboração, compartilhamento e rastreamento de dados, controle de revisão e comunicação com o cliente. Todos os principais componentes fundamentais da plataforma 3DExperience é o que usamos para melhorar nosso processo. 

Na sua relação com os usuários e clientes, como você enxerga a questão da sustentabilidade nos processos, é algo que o mercado exige das empresas ou as empresas estão empurrando isso para o mercado?

Na minha perspectiva, os clientes dos quais conversamos estão procurando como ‘fazer melhor’, de forma mais eficiente, o que inclui sustentabilidade. Indústrias não querem desperdício, é tudo sobre como ser mais rápido, mais eficiente, como reduzir os custos, garantindo que tudo seja de uma maneira sustentável.

O que realmente significa, para a plataforma e para os usuários, os 3 pilares centrais da plataforma 3DExperience: Fabrication and Machining; Manufacturing Collaboration; e Factory Automation?

As 3 seções são baseadas na jornada do cliente, porque alguns clientes, como de metal processing são muito avançados - eles estão fazendo robótica há 25 anos - outros estão “só” colocando robôs. E quando olhamos para como a jornada do cliente deve ser, isso geralmente recai sobre essas 3 seções. (...) Dessa forma, quando olhamos para Fabrication and Machining, é sobre melhorar seu processo para usinagem, o que quer que isso signifique [para uma empresa específica], melhorando os componentes de produção. 

O segundo [Manufacturing Collaboration] é sobre colaboração, e, como seres humanos, nós sabemos bem que nem sempre esse é o nosso forte, uma das brincadeiras que sempre digo é que, começamos falando, depois digitando [mensagens], depois usando 3200 emojis… estamos regredindo no que diz respeito à comunicação, e como nós sabemos, um dos maiores desafios quando você precisa construir coisas mais rápido, mais barato, o tempo todo é sobre quão efetivamente nós nos comunicamos. Um dos grandes gargalos das indústrias é, não só capturar a  informação dos dados coletados, como garantir que toda a equipe esteja na mesma página. Na sequência, a questão é ‘como colaboramos melhor’, ‘como garantimos que todos estão [focados] naquele mesmo objetivo para alcançarmos o sucesso’ - porque nós podemos ter diferentes perspectivas sobre o que é o sucesso, mas, se nós trabalhamos para a mesma empresa, é benéfico se todos soubermos o que significa isso [para a empresa].

E cada empresa tem uma dinâmica diferente e uma jornada diferente. Então, o que é 20% para uma empresa, talvez seja 2% para outra, porque eles já estão mais avançados no caminho da automação.

Quando olhamos para a última seção, Factory Automation, isso é realmente “hot topic” ultimamente, principalmente, nos últimos anos… a força de trabalho mudou, os skills mudaram, as pessoas mudaram. A maioria das pessoas quer trabalhar remotamente, ultimamente, e isso muda a dinâmica de estar em frente a uma máquina. Então muitas indústrias precisam pensar diferentes maneiras novas para ser produtivo, talvez isso seja colocando mais robôs e permitindo que pessoas possam fazer outras coisas que envolvem pensamento crítico, resolução de problema; ou talvez precisemos mudar a estrutura de nossa fábrica para melhorar o fluxo de trabalho entrando no manuseio de materiais just in time. 

Então, esses são realmente os três segmentos que abordamos, mas, na verdade, falamos sobre todas essas coisas em um cenário para ajudar o cliente a encontrar sua necessidade específica e a jornada para o sucesso. Não se trata de uma fórmula única. Também não é todo mundo que passa pelas mesmas etapas.

Com a plataforma, você pode comprar ferramentas separadamente e se tornar inteligente aos poucos ou é necessário pensar e tornar a fábrica inteiramente inteligente para que seja eficiente?

Pois é, então o processo de uma fábrica inteligente sempre começa com uma seção, porque você aprende muito no seu primeiro projeto. Assim como se você fizer um design de engenharia, sua primeira ideia raramente é a final, certo? Porque fazemos CAD, fazemos design, fazemos simulação, fazemos revisões, saímos no mundo real. E nós pensamos, ‘ops, eu não contei com isso’. Portanto, a automação da fábrica, a fabricação inteligente, é um processo muito semelhante ao que um usuário faria ao projetar uma peça no SolidWorks. Ou seja, temos uma ideia, mas queremos testá-la aqui.Queremos aprender o que podemos ou não fazer. E então, uma vez que entendemos o que podemos e o que não podemos fazer, percorremos toda a fábrica. O objetivo é eventualmente ter uma fábrica inteligente inteira. Mas como tudo, temos que começar com um passo. Portanto, é realmente escalável - para você saber -, dependendo do que você deseja fazer.

Isso me leva à simulação. Tanto gêmeos virtuais e simulação, duas coisas que temos ouvido muito sobre a plataforma neste evento. Você disse que trabalha direto com os clientes, certo? Com a sua experiência com clientes de usinagem, você pode nos falar sobre esse tipo de tecnologia e como a plataforma os está ajudando?

Eu fiz usinagem por um longo tempo. Eu fiz isso muito tempo atrás, quando não tínhamos as ferramentas que temos hoje. Você sabe, um dos benefícios da simulação com usinagem é realmente duplo. Primeiro, as máquinas se movem mais rápido do que nunca, a ponto de eu poder trocar a ferramenta que está falhando antes de, como humano, apertar o botão de parada. E quando estamos falando disso, nos referimos a equipamentos muito caros, [com funcionamento] muito rápido e muitas peças para fazer. Você não pode cometer esse tipo de erro, certo? Portanto, ser capaz de simular e validar esse cenário do mundo real, antes mesmo de carregar uma máquina, é fundamental, não apenas para a produtividade, mas também para a proteção do investimento que você fez no equipamento. Então, esse é o primeiro passo para proteger o que você investiu como tecnologia, a segunda área cai um pouco mais sobre a próxima geração.

Acredite ou não, há muito grisalho ali e você vê a força de trabalho envelhecendo. E quando eu aprendi a fazer usinagem e manufatura, tinham aprendizes, você começava começava varrendo o chão e limpando as máquinas, e só depois iria operar as peças. Então você tem que aprender a programar, certo? Foi meio que essa evolução. Com a mudança em como o mundo está hoje, não há realmente essa progressão que houve antes. Acho que todos nós estamos cientes disso. Todo mundo, hoje em dia, quer começar como CEO, me parece. E então, se você está tendo uma geração que não passa por esses processos, como você garante que seu investimento como proprietário não estará em risco?

A maneira de fazer isso é simular e validar dentro de um ambiente digital, que aliás, é muito parecido com videogames, nos quais a próxima geração adora se envolver. Todos eles cresceram com isso. É um ambiente muito gamificado, simulando na fabricação, seja programação de robôs, usinagem CNC, simulação de fluxo de fábrica, este é um ambiente muito gamificado. Eu farei isso se eu puder fazer, só então executo no mundo real. E o que vimos é que a geração mais jovem adora esse tipo de ambiente, porque não há risco de experimentar novos métodos. Então, eles realmente conseguem inovar seu processo antes de terem que sair e fazer isso no mundo real. Portanto, a simulação é uma peça muito grande e importante, não apenas para o proprietário da empresa, mas para a próxima geração que executará as ferramentas e fabricará os produtos.

Se hoje em dia falamos tanto sobre simulação, porque ainda é falado sobre ela como uma novidade?

A tecnologia não é nova. Mas a conscientização e o entendimento, como algumas das tecnologias que mostramos com nuvens de pontos e simulação, muitas empresas não sabem que existe. Elas estão procurando por ferramentas e simplesmente não estão cientes disso. Então, parte disso é uma consciência e uma compreensão [sobre os benefícios da tecnologia]. Mas, como todos sabemos, e acho que todos experimentaram esta semana, você voa para cá, sai do avião, corre para o hotel e corre aqui, corre aqui, corre aqui e provavelmente perdeu 30 experiências, porque você estava correndo para um compromisso, certo? Se você pensar em um fabricante no seu dia a dia, tenho que produzir um certo número de peças, tenho que enviar um certo número de peças, tenho que vender um certo número de coisas… E você entra em uma rotina de apenas fazer isso. E muitas vezes, eles gostariam de fazer outra coisa. Mas eles não estão cientes de que há algo a mais. Então eles continuam a fazer o mesmo processo. Se não acredita em mim, quando sair daqui hoje, faça um caminho diferente até o hotel e aposto que terá uma experiência que não teria se fosse por outro caminho. Isso é parte do que você sabe, isso é parte do que acontece na fabricação, é o que fazemos em nossa vida diária.

Durante as apresentações de destaque do 3DExperience World ouvimos muito sobre como uma fábrica inteligente pode ajudar uma comunidade. O que vocês realmente querem dizer com isso?

Eu posso falar da minha experiência. Eu moro em Nebraska, que a maioria das pessoas só sobrevoa. Eu cresci em uma fazenda. A área em que cresci, nos últimos 20 anos, a população diminuiu 20%. E isso ocorre porque para conseguir um emprego em algum lugar você precisa ir para a cidade, porque há muito poucos empregos nas áreas rurais. Então, quando você começa a falar sobre conectar pessoas, comunicar e colaborar, você dá uma oportunidade para um pequeno fabricante em lugares assim, que geralmente começa a perder pessoas [mão de obra], para agora expandir sua capacidade para qualquer pessoa no mundo poder apoiá-lo.

Então, se você mora onde eu cresci, o melhor programador de robôs do país provavelmente não virá para uma cidade de 200 habitantes. Mas a tecnologia que eles [fabricantes] podem fornecer significa que eles [trabalhadores] podem residir em qualquer lugar, se quiserem estar em uma cidade grande e ainda apoiar a economia local, o que significa que a manufatura fica onde está, em vez de competir com grandes cidades. Portanto, quando falamos em ajudar as comunidades, na verdade significa que agora temos a capacidade de ter um pequeno fabricante, conectando-se ao mundo exterior e ainda ser competitivos.


*A jornalista viajou ao evento a convite da empresa.

*Imagem de capa: Depositphotos

* Esta empresa é parceira do Grupo CIMM

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