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Especialistas dão dicas de como pensar e estruturar projetos 4.0

Indústria 4.0 exige projetos que unam tecnologia a eficiência e produtividade

Por: Gabriela Pederneiras/ Especial CIMM      Exclusiva 21/11/2022 

A Indústria 4.0 já é realidade. Mas, por mais que os profissionais que trabalham no setor venham se preparando há anos para se adaptar a esse movimento de mercado, na hora de desenvolver um projeto 4.0 vários questionamentos e dúvidas aparecem. 

Isso ocorre não porque os gestores têm um conhecimento limitado acerca das tecnologias existentes e tendências organizacionais, mas porque ainda existem incertezas acerca do efetivo impacto dos projetos na eficiência e produtividade. Por tanto, desde o começo os projetos 4.0 precisam ser pensados para resolver problemas específicos, de forma otimizada, ágil e com um custo-benefício compatível. 

Para Enzo Morosini Frazzon, professor de Engenharia de Produção na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), todo projeto 4.0 precisa estar inserido em um plano de negócio, ou seja, deve fazer parte de um objetivo maior e não ser trabalhado de maneira isolada. 

“Em minha opinião, estamos em um momento crucial para a transformação digital, o momento de efetivar as promessas de um indústria mais eficiente e ágil. Todo diretor de manufatura precisa ter traçado e comunicado o caminho a ser percorrido nessa transformação”, ressalta o professor. 

Para tanto, ele defende que, antes de iniciar a implementação de um projeto envolvendo conceitos, tecnologias e/ou métodos da indústria 4.0, todo diretor de manufatura deve ter desenvolvido e comunicado para a organização os seguintes itens - que devem ser integrantes do plano de negócio que justifica a implementação do projeto 4.0:

  • 1. Qual é a visão estratégica (longo prazo) e tática (médio prazo) que a empresa almeja atingir com o projeto?
  • 2. Qual é o contexto sociotécnico e organizacional da implantação?

Quem são os apoiadores da implementação, idealmente alta direção?
Quem são os tomadores de decisão envolvidos?
Quem será impactado pela implementação? Haverá retreinamento e/ou realocação?
Como os sistemas e processos atingidos funcionam atualmente (diagnóstico) e como funcionarão após a implementação do projeto.

  • 3. Quais são os recursos necessários, quanto e quando?

Humanos: Qual a equipe alocada? Como será alocada? Qual é o perfil? Existe necessidade de treinamento? Qual o plano de treinamento?Tecnológicos: qual o grau de maturidade tecnológica da empresa?


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O profissional explica que, caso exista a necessidade de mobilização de tecnologias não dominadas pela empresa, é preciso traçar um plano de apropriação correspondente.

Informacionais: Qual a origem, como serão sistematizados e utilizados os dados e informações?

  • 4. Quais são os retornos esperados, quanto e quando?

Tangíveis: Foco em eficiência (ganhos de produtividade, redução de desperdícios) e eficácia (ganhos de efetividade). Quais são os indicadores de desempenho monitorados antes, durante e após a implementação?
Intangíveis: imagem, evolução do mindset, transformação organizacional

  • 5. Qual é o cronograma de implementação do projeto, com etapas, atividades, recursos alocados, entregas intermediárias e finais?
  • 6. Qual é o plano de comunicação?

Definição de documentos estruturados e marcos periódicos, voltados para o ambiente interno e externo à organização.

Parceria entre indústria e academia

O Prof. Enzo Frazzon destaca ainda que a colaboração entre a indústria e a academia aumenta a efetividade da implementação dos projetos 4.0. “Principalmente porque a Universidade pode contribuir com uma visão externa especializada e neutra, não atrelada a fornecedores de tecnologias específicas, que podem distorcer a tomada de decisão acerca de investimentos e decisões tecnológicas com impacto no longo prazo”, explica.

Assim, os planos de negócio dos projetos 4.0 poderão se concentrar na proposição de valor e ganhos de eficiência, mobilizando adequadamente as soluções tecnológicas requeridas.  

O coordenador do curso da FGV Educação Executiva de Gestão de Inovação e Tecnologia - Indústria 4.0, Gustavo Peçanha Lacerda Lima, endossa Enzo ao defender uma visão global dos gestores na hora de implementar um projeto 4.0. Além disso, Lima aponta a necessidade das empresas valorizarem as tecnologias e profissionais brasileiros para fazer esse projeto rodar. O coordenador é categórico: "quem ainda não começou seus projetos 4.0, está perdendo tempo”.

Para Lima, os gestores devem sempre ter em mente:

  • Aonde ele quer chegar com o Projeto 4.0 - Com clareza de objetivos, os projetos se tornam mais fáceis e assertivos;
  • Quais recursos ele consegue/necessita dispor para o respectivo projeto 4.0 (ou correlato) - Qualquer projeto necessita de recursos qualificados, no tempo certo. Um projeto de vanguarda tecnológica "merece" uma preparação ainda mais cuidadosa;
  • Quais metas específicas do respectivo projeto 4.0 - Os objetivos podem ser passar a imagem de empresa atual e visionária, mas ficarão surpresos com o atingimento de ganhos expressivos, quando focado em algum atributo estratégico e monetário. É comum projetos bem estruturados obterem retorno (payback) medido em meses ou até semanas;
  • Qual a velocidade vai realizar o projeto e quando estima atingir as metas propostas - Expectativa de tempo para estruturação adequada e maturidade de etapas é inteligente e deve ser respeitado. Via de regra, projetos atravessam períodos de frustrações e inseguranças; imaginem projetos de vanguarda, interfaces e de aporte tecnológico complexo. Equipe experiente, Liderança ativa e respeitosa, são segredos "aparentemente óbvios" e primordiais;
  • Reconhecer que Projeto 4.0 é apenas um passo na Jornada 4.0 - É comum projetos se desdobrarem. A parte boa da jornada é perceber que os ganhos se tornam exponenciais, com desenho fundamentado de objetos, equipe e tecnologias aportadas;
  • Temos pessoas com muito conhecimento de Projetos 4.0 no Brasil - Reconhecimento de diferenciais para o perfil positivo de alguns brasileiros e casos expoentes globais;
  • Temos tecnologias (diversas) disponíveis no Brasil - Ofertas mundiais de líderes, fornecedores de soluções de nicho e serviço com qualidade reconhecida;
  • Qualificação de pessoas tem dado enormes resultados, para empresas que investem - Competências são muitas e amplas, dependendo do projeto, mas seu domínio é fator de sucesso e retorno;
  • Alinhamento de Objetivos e Ações são críticos e necessários, com equipe e corpo diretivo - Os resultados de projetos normalmente impactam amplamente a empresa, que deve estar preparada para aportar nas necessidades e maximizar a obtenção de atributos e de resultados;

Em resumo, os profissionais defendem que os gestores de projeto 4.0 precisam ter uma visão integral tanto do plano de negócios da empresa, quanto dos itens que compõem o projeto. Só assim, é possível mapear as variáveis importantes, valorizar os recursos internos e gerar valor para a empresa e para a sociedade como um todo. 

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