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As tendências da Manufatura 4.0: para onde olhar?

Pesquisa da Info-Tech Research Group lista tendências da indústria de manufatura avançada.

Por: Angieli Maros/ Especial CIMM      Exclusiva 05/09/2022 

Modernização, disrupção, resiliência e manufatura verde são os vértices de uma nova era da indústria manufatureira. Aqui e agora, este ecossistema é resultado de soluções emergentes – e urgentes – que colocarão à prova, em uma espécie de “seleção natural” da indústria, modelos incompatíveis com o novo perfil, puramente digital e mais consciente, da cadeia de produção. E a curto prazo.

Essa é a conclusão da mais recente pesquisa da empresa global de consultoria Info-Tech Research Group, publicada em julho deste ano como o mais novo diagnóstico do setor. As tendências foram mapeadas de acordo a metodologia de previsão estratégica, ou seja, sinais que vêm de dentro da própria indústria e, quando agrupados, refletem estas predisposições e também os direcionamentos adequados às iniciativas estratégicas que podem superar os osbstáculos e levar ao sucesso.

Intitulado The Durable Goods Manufacturing Industry 4.0 Trends Report [Relatório de Tendências da Indústria de Manufatura de Bens Duráveis ​​4.0, em tradução livre], o levantamento se mostra como oportuno em condições de desafios múltiplos acelerados pela falta de mão de obra na indústria.

"Em quase todos os setores, há percalços na força de trabalho, e o setor de manufatura é o mais lento para se recuperar", disse o diretor-geral de Pesquisa da Info-Tech, Kevin Tucker, especialista em manufatura e cadeia de suprimentos industriais, na ocasião do lançamento da pesquisa.  

Uma demanda que não escapa ao contexto brasileiro. Como reportou o CIMM, mesmo diante de um contingente denso de desempregados, o setor industrial vem enfrentando dificuldades para preencher postos de trabalho mais específicos. Em 2020, cinco em cada dez indústrias não conseguiram encontrar mão de obra qualificada – impacto direto da má qualidade da educação no Brasil.


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Em maio deste ano, o Mapa do Trabalho Industrial 2022-2025, estudo realizado pelo Observatório Nacional da Indústria para identificar demandas e propor reflexões sobre a formação profissional do setor, mostrou a necessidade de qualificar no Brasil 9,6 milhões de pessoas em ocupações industriais nos próximos quatro anos, sendo 2 milhões em formação inicial e 7,6 milhões em formação continuada.

Um percalço que complexifica a adesão da indústria de manufatura às nova tecnologias.

A pesquisa Info-Tech destaca que, tradicionalmente, empresas da área tendem a demorar mais a modernizar processos, embora a adoção de técnicas avançadas tenha aumentado consideravelmente desde o início da pandemia. Mesmo assim, a ressalva é de que as organizações não podem mais encarar a reformulação dos seus processos como opcional.

Uma máxima com a qual diretora de produtos de Manufatura da TOTVS, Angela Gheller, diz estar totalmente de acordo. Para a executiva, o investimento em tecnologia é “urgente e mandatório”, uma premissa para se manter vivo no mercado.

“O investimento em tecnologia é urgente e mandatório. Sabemos que a tecnologia, quando bem planejada e implementada, proporciona aumento da produtividade, evita desperdícios e perdas, otimiza tempo e promove uma maior organização de gestão e operacional, apoiando nas tomadas de decisões e, dessa forma, ampliando as oportunidades de negócios, afirma.

Segundo Gheller, o país ainda tem empresas atrasadas frente à digitalização e transformação digital, mas é importante considerar também indicadores de evolução. Cita, por exemplo, Sondagem Especial Indústria 4.0, elaborada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que retrata uma indústria brasileira mais digital: em 2016, 48% das indústrias brasileiras utilizavam tecnologias digitais na produção. Em 2021, o número saltou para 69%, com o avanço no uso de tecnologias da Indústria 4.0.

“É fato que, depois do mundo viver uma crise pandêmica e enfrentar desafios nunca antes vividos ou sequer imaginados, as indústrias enfim observaram e entenderam a importância dos investimentos tecnológicos, inclusive colhendo os benefícios na prática”.

Os líderes da Indústria 4.0

A escassez de mão de obra e legitimação da tecnologia como primordial são apenas parte do entrave para a implementação do chamado novo ecossistema da indústria manufatureira.

A migração para o novo modelo e para a implementação das novas tendências diagnosticadas pela Info-Tech é “pedregoso”, nas palavras de Tucker, “com as maiores barreiras sendo o medo de perda de emprego, recursos escassos, aumento da concorrência e dificuldade de fazer com que o negócio seja um investimento consistente”.

Então, o olhar também se volta para o papel do executivo dos negócios, no epicentro do terremoto provocado pela volatilidade do mercado e pelo surgimento de novas vertentes tecnológicas. Para Tucker, a demanda da Indústria 4.0 é por líderes capazes de pensar a tecnologia e, ao mesmo tempo, desempenhar papel de comunicador com o intuito de garantir às empresas a compreensão da importância de uma estratégia de reformulação provocada pela tecnologia.

Mas não significa, necessariamente, um novo modelo de fazer negócio, afirma Gheller, da TOTVS. O desafio de planejar neste ecossistema, apesar dos empecilhos, é de uma gestão sincronizada em todos os processos, com foco no uso dos dados on-line.

“A tecnologia proporciona uma maior organização e controle de gestão e operacional. Com isso e a disponibilidade de dados e informações precisas, as companhias conseguem organizar as demandas – de compras e vendas – e realizar previsões. Dessa forma, não haverá uma escassez de produtos, uma vez que houve o estudo e o mapeamento das produções futuras (pensando num cenário padrão, sem intercorrências e fatores externos, como quebra de safra etc.)”, afirmou a executiva ao CIMM.

Tendências da Indústria 4.0

A pesquisa da Info-Tech mostra que as quatro tendências da manufatura avançada a serem consideradas pelos líderes e executivos na indústria manufatureira se complementam entre si e formam um conjunto de prerrogativas que precisam ser levadas em conta na hora de pensar, ou repensar, o negócio:

  • Modernização – diz respeito à migração para a Indústria 4.0. A empresa de manufatura “tradicional” concentra modelos de, geralmente, 20 a 30 anos atrás; no entanto, a expectativa da nova geração de trabalhadores é automatização;
  • Disrupção – pensar em modelos específicos para rápida participação no mercado. Uma nova geração de manufatura com microfábricas e sistemas inteligentes está permitindo que players de nicho se tornem rapidamente relevantes;
  • Resiliência – A lição do Covid-19 é ter uma cadeia de suprimentos diversificada que combine onshore e off-shore.
  • Manufatura Verde – Manufatura circular e gestão com foco em energia limpa. As questões ambientais, sociais e de governança (ESG) estão na vanguarda do vocabulário de todos os negócios e, em breve, se tornarão vitais para a sobrevida dos negócios.

 

Imagem de capa: Depositphotos.com

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