O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Braga de Andrade, anunciou novos projetos de inovação firmados pelo Sistema Indústria em parceria com as empresas Rockwell e SOSA. O anúncio foi feito na última sexta-feira (1º), durante a abertura da reunião de líderes da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI), realizada no escritório da CNI em São Paulo.
Esta foi a primeira reunião presencial da MEI desde o começo da pandemia, tendo contado também com participação virtual de integrantes do movimento. Coordenada pela CNI, a MEI reúne cerca de 400 das principais lideranças empresariais do país. Ao detalhar o acordo com a norte-americana Rockwell, uma das líderes mundiais nas áreas de informação e automação industrial, Robson Andrade destacou que a iniciativa prevê a criação de uma infraestrutura de pesquisas e de formação profissional voltada para ampliar a capacidade de inovação da indústria brasileira.
A parceria com a Rockwell engloba quatro eixos: projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação em temas relacionados à transformação digital e à produtividade; programas estruturantes e missões industriais para promover a produtividade e a sustentabilidade; colaboração com a rede de Institutos SENAI de Inovação e de Tecnologia; e programas educacionais para formação de capital humano em tecnologias da Industria 4.0, permitindo a conexão e a interação com ecossistemas industriais.
“Aprovamos investimento de R$ 400 milhões para o SENAI voltados para a Indústria 4.0. Todas as escolas do SENAI vão estar conectadas por esse projeto. Também acertamos um projeto-piloto no Paraná entre SENAI e SOSA para um esforço de inovação para pequenas e médias empresas”, contou o presidente da CNI.
A SOSA é uma empresa israelense que mantém uma das maiores plataformas de inovação aberta do mundo. A CNI é parceira da SOSA em uma série de projetos desde 2020, que envolvem grandes empresas e startups.
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Durante discurso na reunião da MEI, Robson Andrade ressaltou que o 9º Congresso Brasileiro de Inovação da Indústria, realizado em março pela CNI e o Sebrae, ficou marcado como um dos principais eventos empresariais do país em 2022. “O Congresso é uma forma de atingir o principal objetivo da MEI, que é disseminar a importância da inovação para os brasileiros e que a indústria brasileira coloca isso como prioridade para o seu desenvolvimento”, explicou. “Além disso, foi uma oportunidade para fortalecer as redes de contatos e estabelecer negócios e parcerias entre os agentes do ecossistema de inovação”, acrescentou o presidente da CNI.
Horácio Piva, membro do Conselho de Administração da Klabin, fez um balanço sobre o Congresso de Inovação. Foram quase 1,7 mil pessoas presentes nos dois dias de evento e mais de 100 mil visualizações de conteúdo na plataforma online – esta edição foi a primeira em formato híbrido, com convidados participando presencialmente e mais de 20 mil inscritos para acompanhar por meio virtual. “Os números mostram a grandeza do evento e a importância que tem sido dada ao tema inovação”, afirmou Piva.
Novo ministro indica temas prioritários e papel importante da indústria
A reunião da MEI contou com a presença do ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações, Paulo Alvim, que tomou posse no cargo nesta quinta-feira (31) – esta foi a primeira agenda pública dele na nova função. Ele disse que a pasta dará atenção a temas como a Indústria 4.0 e o 5G. “Temos uma política de Estado, com planejamento de longo prazo. As estratégias do 5G, por exemplo, abrem janelas de oportunidades. Ou seremos players ou partícipes. Não podemos perder mais esta oportunidade. Nesta linha, o MCTI tem uma lógica de construir a pauta de futuro, com um ambiente não só favorável para empreender, mas principalmente para inovar”, discursou o ministro.
Alvim pontuou ainda que a indústria tem papel essencial para a geração de empregos e que, para isso, precisa ter suporte para investir em inovação.
“O ecossistema precisa estar fortalecido para suportar o crescimento das empresas. Precisamos de mecanismos para mitigar os riscos da inovação das empresas. Isso não é protecionismo. Sabemos que aquela empresa que não inovar vai ficar fora do mercado”, afirmou.
Também presente à reunião, a secretária especial de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia, Daniella Marques, disse que a união entre os setores público e privado é essencial para as agendas futuras de inovação do país. “A gente tem que se unir nesse ponto futuro, no propósito e nos caminhos, com engajamento da sociedade civil, dos empresários, para que esta agenda esteja acima de transições de governos e de políticas-partidárias”, enfatizou.
Daniella aproveitou para alertar aos empresários que o governo vai lançar na próxima semana um chamamento público destinado a grandes empresas privadas interessadas em adotar iniciativas de empreendedorismo feminino.
Colaboração da MEI para avanços dos marcos regulatórios de inovação
O Grupo de Trabalho (GT) de Marco Regulatório de Inovação da MEI elaborou uma pauta-mínima com prioridades para 2022. A frente do GT, o presidente do Conselho de Administração da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei) e líder global de gestão do conhecimento da Braskem, Rafael Navarro, apontou que a prioridade será colaborar com a ampliação do financiamento à pesquisa e desenvolvimento (P&D).
Na pauta-mínima estão medidas voltadas para a melhor destinação dos recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), principal fonte de financiamento à ciência, tecnologia e inovação (CT&I) do país; além de propostas para aperfeiçoar a Lei do Bem, o Marco Legal das Startups e o Sistema Nacional de CT&I.
“O recurso do FNDCT, por exemplo, está disponível. O nosso desafio é fazê-lo fluir para bons projetos. Precisamos colaborar com a FINEP, gestora dos recursos, para formular um modelo de governança de forma que o orçamento seja usado com agilidade e menos burocracia”, destacou Navarro. “Já a Lei do Bem abrange poucas empresas, embora seja efetiva. Precisamos garantir a continuidade e aprimorá-la”, disse.
Ele mencionou estimativa de 2016 segundo a qual se não houvesse a Lei do Bem os investimentos em CT&I cairiam na ordem de R$ 1 bilhão.
De acordo com o líder da MEI e presidente do Conselho de Administração da Ultrapar, Pedro Wongtchowski, a previsão é de que o FNDCT destine na ordem de R$ 9 bilhões em 2022 para projetos de CT&I. Ele observou que, pelo primeiro ano, a lei que proíbe o contingenciamento de recursos do fundo garantirá a totalidade do dinheiro disponível para a sua finalidade.
“Com a derrubada do veto ao contingenciamento do FNDCT, temos, já para 2022, cerca de R$ 9 bilhões para o financiamento à inovação no Brasil, o que é uma vitória, sendo metade de recursos reembolsáveis e metade não reembolsáveis”, enfatizou o empresário, que falou sobre a agenda da MEI para este ano e as perspectivas de financiamento em CT&I.
Palestrantes internacionais apontam desafios na inovação para o Brasil crescer
O professor de economia da Universidade de Harvard Dani Rodrik, principal palestrante do Congresso de Inovação, realizado em março, alertou para a importância de o Brasil alinhar suas políticas públicas de inovação e competitividade para voltar a criar empregos. Participando da reunião por meio virtual, ele destacou que a reorganização do trabalho e da produção serão decisivos para a recuperação econômica.
Rodrik lembrou que a produtividade no Brasil tem diminuído desde a década de 1980 e que é hora de o país somar esforços para reverter essa tendência.
“Os trabalhadores no Brasil estão indo para o setor tradicional, que absorve as forças de trabalho. Inovações reduzem a necessidade de mão de obra em setores mais avançados. Isso significa que tem gente saindo dos setores avançados e indo para setores tradicionais. É preciso criar empregos corretos na quantidade suficiente para resolver esse problema da transformação estrutural”, alertou.
De acordo com Rodrik, algumas coisas no Brasil estão dando certo, como o progresso tecnológico dentro das empresas, a difusão de tecnologia entre indústrias e a movimentação da mão de obra de atividades de baixa produtividade para atividades de alta produtividade.
O reitor da Business School da Universidade de Oxford, Soumitra Dutta, disse, também que a CT&I terá papel estratégico para o desenvolvimento econômico do Brasil. Segundo ele, o Índice Global de Inovação (IGI) tem impactado diversos países na propagação da cultura de investir em P&D é priorizar esta agenda. Dutta é um dos organizadores do IGI junto à Organização Mundial da Propriedade Intelectual.
Soumitra Dutta lembrou que o Brasil obteve melhora no ranking no ano passado, quando ganhou cinco posições e chegou ao 57º lugar entre 132 países, mas alertou que a colocação ainda é muito ruim, especialmente porque em 2011 o país ocupava a 47ª posição. “Os países do IGI avaliam seu desempenho em inovação e tomam decisões políticas informadas. Hoje, os formuladores de políticas usam o ranking como parte de suas estratégias de inovação e de política econômica”, destacou.
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