O programa Alavancagem de Alianças para o Setor Automotivo (A3), coordenado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) no âmbito do programa Rota 2030, do Governo Federal, fechou seu primeiro ano de operação com um investimento total de R$ 88 milhões em projetos para o refino da cadeia automotiva brasileira. As atividades são parte da espinha dorsal da nova política pública consolidada para o setor, com olhos voltados para o desenvolvimento associado à tecnologia e à competitividade.
A aplicação dos recursos do programa do Senai parte das coordenadas marcadas pelo avanço da Indústria 4.0 e contempla um tripé de trabalhos complementares, praticados nas linhas de desenvolvimento de competência; incremento de produtividade da cadeia; e aumento de recursos para pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I). Com este corpo, o programa hoje já soma mais de 280 ações em prática e um volume de verba que tende a aumentar conforme o engajamento e a evolução dos projetos.
“É uma estratégia para apoiar mais e melhor a indústria brasileira nessa agenda voltada para uma maior competitividade”, resumiu o diretor do Senai, Rafael Lucchesi, em painel virtual organizado pela instituição no último dia 19 de maio para apresentar os avanços do programa nos últimos 12 meses.
Dos R$ 88 milhões investidos pelo A3 neste primeiro ano, R$ 30 milhões foram destinados a propostas de consultoria em manufatura enxuta (lean manufacturing) e/ou digitalização, pensadas para identificar e corrigir fissuras comprometedoras da cadeia produtiva. Por esta frente, já foram aprovados 271 projetos com o objetivo de obter 20% de incremento de produtividade em lean e 10% em digitalização – uma composição que acelera e aprofunda o ritmo de inovação do setor.
Em São Paulo, que concentra mais de 40% das fábricas do complexo automotivo brasileiro, a quantidade de mentorias aplicadas a partir das diretrizes voltadas para o incremento de produtividade da cadeia do A3 já chega a 155, seguido de Minas Gerais (31); Rio Grande do Sul (29); Paraná (19) e Pernambuco (12). Os demais projetos submetidos e apoiados estão em Santa Catarina (11); Bahia (6); Goiás (5) e Espírito Santo (3).
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Unidades de médio porte foram as que mais tiveram pedidos aprovados: 115 no total. Grandes e pequenas tiveram, cada uma, 109 e 47 submissões aceitas. Quanto a categorias, 98 atendem aos critérios de produtividade (manufatura enxuta); 82, digitalização; e 91 aos dois conceitos simultaneamente.
“Acompanhamos não só os indicadores de desempenho, mas também temos feito visitações, agora virtuais, para acompanhar qualitativamente a percepção do empresário, das equipes das empresas atendidas, de como está sendo essa transformação a partir da manufatura enxuta e da digitalização. E realmente a gente tem recebido resultados bem interessantes. Várias empresas que foram ou estão sendo atendidas pelo Senai estão fazendo propostas para as outras linhas do programa prioritário”, relatou Marcelo Primm, gerente de Inovação e Tecnologia do Senai, durante apresentação do painel.
Empreendedorismo e educação
Incentivo a projetos de alta maturidade tecnológica voltados para a superação conjunta de desafios é outra meta do programa prioritário do Senai alinhado às metas do 2030, para a qual já foram disponibilizados recursos na casa dos R$ 58 milhões.
As verbas contemplam ações com pontos de partida distintos, focados em alianças e desafios, mas que se complementam como frente de incentivo ao empreendedorismo.
Por um lado, projetos de aliança industrial – com um total de 15 aprovados até agora – unem empresas de grande e médio porte na busca por soluções inovadoras dentro da cadeia nacional. Neste caso, a oferta de novas tecnologias concentra as ações de desenvolvimento e inovação em uma empresa âncora, que ao mesmo tempo prepara o restante da cadeia para levar os novos recursos ao mercado. Paralelamente, trabalhos voltados para a superação de desafios miram no aprimoramento tecnológico a partir da colaboração de startups especializadas em contribuição industrial, frente que hoje conta com três contratações.
“A gente acredita em inovação sempre em consórcio, empresas do mesmo porte ou empresas que componham com a montadora a sua cadeira de fornecimento. Divide-se o risco e os resultados são compartilhados entre as empresas. A gente diminui o risco tecnológico de negócio e compartilha resultado. A partir do desenvolvimento de uma P&D feito no Brasil, a cadeia tem que estar pronta ou tem que ser preparada para colocar essa inovação no mercado”, salienta Primm.
Além da verba direcionada, o A3 também prevê o investimento de recursos estruturais nas atividades de incremento da produtividade da cadeia do setor automotivo, linha a partir da qual coordena um Master in Business Innovation (MBI) para trabalhar características da Indústria 4.0 no setor automotivo. Atualmente, o programa mantém uma turma em andamento, com 55 alunos ligados às 20 das maiores empresas do setor automotivo, como, por exemplo, Mercedes, Ford, Toyota, Volvo, Bosch e Hyundai.
Protagonismo no mercado
O Alavancagem de Alianças para o Setor Automotivo do Senai é um dos cinco programas prioritários selecionados pelo Governo Federal para administrar a aplicação de parte dos recursos do caixa do Rota 2030, definido como a nova política pública para o setor. Instituída por lei em 2018, a estratégia nacional concentra fortes investimentos no setor privado, estabelece novas frentes de regime fiscal e abre espaço para benefícios tributários a empresas interessadas em destinar capital a projetos de pesquisa e desenvolvimento na área.
A expectativa é que no primeiro de seus três ciclos quinquenais previstos, o Rota 2030 alcance um montante de R$ 1 bilhão em ações de aprimoramento da cadeia. A fonte de custeio é a contrapartida ao regime de autopeças não produzidas, política fiscal por meio da qual o governo zera a alíquota de importação de componentes não produzidos no país – hoje taxada em 2% - com a condição de que o valor equivalente siga direto ao caixa dos programas prioritários.
“Nós vemos que é uma nova forma de fazer política pública, onde você vai por mecanismos de mercado. Quem faz o aporte dos recursos é que escolhe em qual programa vai colocar, em qual linha que vai preferir colocar seus recursos. Acho que o programa Rota 2030 vem justamente dizer isso, que ninguém conhece melhor a indústria do que a própria indústria”, destacou durante a realização do painel do Senai a coordenadora geral Fiscalização de Regimes Automotivos do Ministério da Economia, Margarete Gandini.
Para o diretor técnico da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Henry Joseph Junior, que também compôs a mesa de convidados do painel, o A3 vem se configurando como uma das principais facetas do Rota por apostar no desenvolvimento de produtos que possam ser produzidos para o mercado local e também para a exportação.
A avaliação do presidente do Sindipeças, Dan Ioschpe, foi semelhante. Segundo ele, os investimentos feitos pelo Senai a partir do A3 mantêm consonância com a proposta central da nova estratégia federal para acelerar a produtividade e a competitividade.
“Nossa ênfase tem sido em melhorar aquilo que dá para melhorar, mas sem dúvida dar longevidade para essa ideia do fomento forte, para a ideia da pesquisa, do desenvolvimento e inovação, que casada com a ideia do Brasil participar mais do mundo, preferencialmente, na nossa visão, através dos acordos comerciais, faz uma química muito favorável ao nosso país e à nossa indústria”, enfatizou Ioschpe.
A possibilidade de usar os programas prioritários do Rota 2030 como alavanca de ideias foi o destaque dado por Besaliel Soares Botelho, presidente da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA). De acordo com ele, investimentos como os feitos pelo Senai no âmbito do Rota 2030 dão ao Brasil grandes possibilidades de entrar em um ritmo de competição mais ousado, principalmente com o fortalecimento do mercado de energia limpa.
“Eu vejo o mercado brasileiro automobilístico nessa transformação já há alguns anos. Nós podemos mostrar nossa engenharia para o mundo com muita competência, e essa nova fase em que vamos galgar talvez vamos ser protagonistas”, disse.
Além do Senai, foram selecionados para compor a base de projetos do Rota 2030 o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep); e a Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa, da Universidade Federal de Minas Gerais (Fundep).
Serviço
O Senai ainda mantém inscrições abertas para projetos. Propostas na categoria de empreendedorismo industrial por meio de alianças devem ser apresentadas por um grupo formado por pelo menos três empresas e um dos 27 Institutos Senai de Inovação. Na categoria de empreendedorismo por meio de Desafios, indústrias interessadas são instigadas a lançar desafios para que startups possam apresentar soluções relacionadas. Veja o regulamento completo aqui.
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