O desperdício de medicamentos, causado principalmente pelo vencimento do seu prazo de validade, é um problema sério no Brasil - em alguns casos, a perda chega a 30%. Por outro lado, em todo o país, hospitais e farmácias, públicos e privados, sofrem com a falta de medicamentos, especialmente os de custo mais alto. Com o objetivo de conciliar essas duas situações, combatendo o desperdício, foi criada uma rede de compartilhamento de medicamentos que utiliza tecnologia Blockchain para dar segurança às transações e, ainda, garantir que elas sejam realizadas de acordo com as normas da Anvisa - Agência Nacional de Vigilância Sanitária.
Batizada de N2Med Ledger, a nova rede tem como base uma solução Blockchain desenvolvida pelo CPQD, com o apoio da EMBRAPII, do SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e da N2M-I Technology Ventures. “O foco inicial da N2Med Ledger são os medicamentos em risco de expirar o prazo de validade”, afirma Lourran Carvalho, farmacêutica pesquisadora e idealizadora do projeto. Segundo ela, estudos indicam que o setor de saúde pública poderia poupar pelo menos R$ 1 bilhão por ano, ao evitar o vencimento do prazo de validade dos medicamentos.
Lourran conta que, atualmente, já existe uma prática informal de troca de informações entre farmácias hospitalares sobre medicamentos disponíveis que estão com validade próxima do vencimento. “Com a nova rede, essas informações podem ser trocadas de forma mais ampla, com segurança e confiabilidade propiciadas pela tecnologia Blockchain”, acrescenta.
Na N2Med Ledger, as organizações cadastradas (farmácias, hospitais, laboratórios e entidades sociais) podem realizar a troca, empréstimo ou doação de medicamentos liberados pela Anvisa. Lourran destaca que tudo é feito com base em regras estabelecidas por consenso em contratos inteligentes.
Fernando Marino, líder técnico em Blockchain do CPQD, explica que os contratos inteligentes são usados tanto na validação do medicamento - que leva em conta seu prazo de validade e as normas da Anvisa, entre outros fatores - como na autorização da transação a ser realizada. “Todos os registros acontecem na rede (ledger) que conecta as instituições, o que desburocratiza e traz agilidade ao processo, ao dispensar diversos documentos necessários para formalizar a troca, empréstimo ou a doação de medicamentos”, afirma. “Com isso, uma transação que levava dias para ser concluída agora pode ser realizada em segundos, e com total confiabilidade para todos os envolvidos”, ressalta Marino.
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Outra vantagem oferecida pela solução, desenvolvida em plataforma Hyperledger Fabric, está na garantia de rastreabilidade dos medicamentos (que têm suas informações registradas na rede) e também das transações realizadas. “Isso cria uma cadeia de responsabilidade e dá mais segurança legal às partes que estão negociando a troca”, destaca Israel Murakami, presidente da Associação Brasileira de Farmacêuticos Atuantes em Saúde Pública (ABFASP), que já fez parceria com a N2Med Ledger. “Essa rede permitirá disseminar o compartilhamento de medicamentos no país, reduzindo os transtornos relacionados ao descarte de produtos com prazo de validade vencido”, conclui.
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