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Cercar ou automatizar, eis a questão

O impacto desproporcional da Automação Industrial

Por: Renato Carlo Zacchello Leal      03/12/2018

Certa vez minha empresa foi convidada a executar um plano de investimento para implantação de uma usina termoelétrica e me deparei com uma situação inusitada. Após termos concluído toda a etapa preliminar de procurement e feito a análise do Capex, despesas de capital ou investimento em bens de capital, ficamos com uma planilha bem completa e itemizada, com os valores indicativos de investimentos.

Por curiosidade, fiz uma classificação dos valores de maior para menor e identifiquei nos “andares de cima” muitos itens relacionados a maquinário e construção. Fui descendo em busca de um dos itens mais importantes para o bom funcionamento da indústria - a automação. Pois eu tive que descer bastante na planilha até chegar. E quando finalmente acho o item “automação”, logo acima encontro o item (pasmem) cerca. Isso não é nenhuma sigla ou termo internacional, não. São aquelas estruturas de estacas para fechar o terreno, mesmo.

Tudo bem que se tratava de um terreno bastante grande, mas ainda assim isso me deixou bastante perplexo. Um dos itens impacta diretamente na operação da planta, inclusive seu Opex, sigla derivada da expressão Operational Expenditure, que significa o capital utilizado para manter ou melhorar os bens físicos de uma empresa, tais como equipamentos, propriedades e imóveis, será impactado por ele. Esse item é um dos principais responsáveis pela produtividade, pelos tempos de parada, pela eficiência, pela qualidade e pela sustentabilidade do investimento. O outro… Bem, o outro é uma cerca.

Em quase 15 anos no mercado de automação industrial, essa simples situação foi um dos momentos de maior clarividência para mim. Foi quando eu percebi da importância das soluções tecnológicas serem discutidas nas etapas preliminares de investimento. Assim como outras tecnologias da Indústria 4.0 a Automação Industrial exerce um valor desproporcional ao seu custo de implantação. Isso deve ser entendido pelas empresas que oferecem essas soluções e (mais importante) deve ser levado ao investidor da forma certa e no momento certo. 


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Há alguns anos eu trabalhei na Alemanha e pude perceber que lá já se dá valor à automação há muito tempo. As definições tecnológicas fazem parte da análise de investimento desde as etapas preliminares. O sistema de Automação Industrial é avaliado como o coração de toda a planta. Trata-se de uma aquisição extremamente estratégica para o bom funcionamento da indústria e que não deveria ser feita com um processo de compras tradicional, como se compra uma cerca. 

À toda a cadeia de suprimentos para soluções de automação (fabricantes de tecnologia, desenvolvedores de software, integradores, etc) cabe a incumbência de mostrar o valor destas soluções ao mercado. É preciso que a mensagem certa seja levada ao mercado e aos investidores industriais: Quem compra automação da mesma forma que compra cerca tem uma chance grande de ficar com um parque industrial ultrapassado, remendado e pouco competitivo. Qualquer semelhança com o Brasil é mera coincidência.

*O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.

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Renato Carlo Zacchello Leal

Renato Carlo Zacchello Leal

Fundador e CEO da GreyLogix Automação, empresa que há mais de 10 anos traz tecnologia de ponta para a indústria nacional. Engenheiro de automação (UFSC), pós graduado em gestão financeira (FGV) e marketing (INPG) e especialização em inovação (UC Berkeley). Aficcionado por inovação tecnológica e empreendedorismo.

Renato Carlo Zacchello Leal
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