A falta de maturidade dos parques industriais no país fez a empresa desenvolver um trabalho de desmistificação do conceito e criar uma solução focada no que é visto como essencial: os dados.
“Nós concordamos com a ideia completa da Indústria 4.0, tanto que a Bosch é a primeira signatária do documento de recomendações iniciais sobre o tema, mas essa visão mais holística, com robôs e realidade aumentada, não é o que pode ser feito no Brasil nesse momento”, declara Fábio Fernandes, especialista em indústria 4.0 da Bosch, que palestrou na Conferência de Inovação 2018 da Anpei.
De acordo com a CNI, o Brasil tem cerca de 700 mil indústrias, que somam mais de 5 milhões de equipamentos. As máquinas em uso no país tem, em média, entre 15 e 20 anos. Além disso, 95% delas não são conectadas à internet.
Segundo uma pesquisa realizada pelo Projeto Indústria 2027, uma iniciativa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), Indústria 4.0 é uma realidade para apenas 1,6% das empresas brasileiras do setor industrial. Em 10 anos, a projeção é de que 21,8% cheguem lá.
De acordo com o estudo, apenas 15,1% dos pesquisados tem projetos em adoção nas áreas de internet das coisas, inteligência artificial, armazenamento em nuvem e big data, cuja combinação gera o cenário de manufatura avançada descrito pelo termo Indústria 4.0.
“A Bosch começou a implantar dentro de casa os conceitos da 4.0 Isso começou a criar gargalos de produção, porque a empresa se tornou mais flexível e respondeu melhor ao mercado, mas percebeu que o seus fornecedores e parceiros não acompanhavam, pois não estão conectados. Notamos que algo visto como acessível na Bosch não era simples para a maior parte das empresas”, completa o executivo.
Além da falta de equipamentos preparados para acompanhar a tendência, a empresa também encontrou uma capacidade baixa de investimento nos projetos de modernização.
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Com isso, a Bosch passou a trabalhar com um processo diferente do aplicado na Alemanha para atender às indústrias locais, com foco em sensores e análise de dados.
“Desenvolvemos uma solução dedicada ao mercado brasileiro, que permite coletar dados e dar transparência ao chão de fábrica sem necessariamente investir em altas tecnologias, com relativo baixo custo”, explica Fernandes.
A ideia da empresa é trabalhar inicialmente em projetos focados em manutenção, para melhorar a produtividade da indústria e reduzir custos com estoque e pessoal, além de oferecer disponibilidade de máquinas.
“No mercado vimos que, para pequenas e médias empresas, um projeto de R$ 500 mil se tornava muito alto, mas hoje podemos trabalhar já numa faixa de R$ 300 mil”, revela o executivo.
A solução desenvolvida para o mercado brasileiro foi implantada em uma indústria catarinense (que não teve o nome revelado) em um projeto financiado pela Bosch. O plano para 2018 é realizar mais dois trabalhos no mesmo modelo para testar o sistema.
Em 2019, a empresa levará a solução oficialmente para o mercado brasileiro. Depois, a ideia é transformar a nova visão em produto global da Bosch para atuação em mercados com a mesma situação do Brasil, como outros países da América Latina, América Central e a Índia.
*Júlia Merker viajou a Gramado para a Conferência de Inovação 2018 a convite da Anpei.
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