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Incoerências nas reduções de custos da indústria 4.0

Vale lembrar que todo projeto de redução de custos tem seus gastos e desperdícios, portanto é importante avaliar se tais reduções não justificariam um novo produto ao invés de mexer no atual

Por: Pietro Perrone      Exclusiva 06/03/2025

O termo redução de custos é sempre mencionado com e entusiasmo pelos famosos recrutadores e também é parte primordial da cartilha operacional da maioria das empresas, nas quais os executivos são, inclusive, bonificados pelos resultados obtidos por tais reduções.

Todos os projetos de redução de custos são elaborados com complicados cálculos de ROI, sempre acompanhados de uma montanha de relatórios, gráficos demonstrativos da viabilidade do investimento e mais um monte de informações normalmente irrelevantes ao resultado operacional final da cadeia produtiva.

Porém, na minha opinião, o que normalmente acontece na vida real é que a maioria dos projetos de redução de custos, quando totalmente implementados, não atingem os resultados ou benefícios planejados, portanto, não adicionam valor algum no produto final, e muito menos nos resultados daquela cadeia produtiva.

Isso acontece principalmente nos projetos que tratam de reduções pontuais, e favorecem apenas um passo ou um processo específico, cujos benefícios se perdem pelo meio do caminho ou são anulados por pioras nas operações subsequentes.

São várias as alternativas de redução de custos que podem passar por um determinado produto, em que podem ser alterados os processos operacionais, ganhando sinergia e reduzindo mão de obra, substituindo materiais aplicados e especificações técnicas. 

Na conjuntura atual, o que mais vemos é a piora da qualidade dos produtos fabricados, em que se substitui a matéria-prima original do projeto por outra mais barata ou mais econômica, logicamente piorando qualidade do produto, aumentando as não conformidades e quebrando a cadência da cadeia produtiva

Na indústria 4.0, onde tudo é sincronizado e ajustado dentro de procedimentos operacionais previamente planejados, esse comportamento teria um resultado tenebroso, e deixaria toda a cadeia muito mais exposta a falhas.


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Toda alteração a ser feita dentro de uma cadeia produtiva deve ser analisada como um todo, em 100% dos casos, pois podemos estar melhorando uma operação e prejudicando outras.

Para quê fazer um investimento que venha a dobrar o volume de produção de um determinado componente, se a cadeia produtiva continua montando a mesma quantidade de produtos finais?

Essa redução de custo, gerada em função da aquisição de um novo equipamento, jamais será refletida no produto final, porque o excedente produzido ficará parado em algum ponto do chão de fábrica, sem ser absorvido imediatamente por essa cadeia nos processos subsequentes.

Vale aqui lembrar que, após produzir o necessário, o equipamento poderá ser desligado, porém não conseguimos desligar a sua depreciação. Todo equipamento ligado ou desligado gera depreciação, inclusive aos sábados, domingos e feriados. Portanto, sua utilização deve ser bem planejada e otimizada entre os pontos de “gargalos” e/ou “excessos” de capacidade.

Na indústria 4.0 não existem milagres operacionais, pois tudo funciona dentro de uma lógica sequencial e de uma técnica coerente, compatível com o sistema operacional existente.

Muitas vezes uma melhoria nos números contábeis não reflete uma melhoria do fluxo de caixa e vice-versa, portanto, pode ser um projeto de redução de custos questionável.

A redução de custos ideal é aquela que não afeta a concepção do produto e explicita o aumento de suas margens de contribuição. Estou falando sobre os reais valores favoráveis que são atribuídos aos resultados da operação. 

Outro ponto importante a se mencionar é referente à abrangência dos projetos de redução de custos, pois quando analisados como um todo, dentro da cadeia produtiva, podem ter seus valores de investimentos otimizados, gerando assim um melhor resultado operacional.

Muitas vezes, é melhor deixar de fazer uma redução de custo do que fazê-la parcialmente, isto é, pontual, em determinada operação. Uma análise detalhada do entorno daquele processo pode sugerir uma abrangência maior da aplicação de um projeto e, mesmo aumentando um pouco o valor total a ser investido, pode garantir resultados concretos no final da cadeia produtiva.

Por exemplo: a usinagem de um eixo em formato redondo pode ser mais eficiente e econômica que em formato quadrado e, ao mesmo tempo, tornaria a automação da montagem final do conjunto mais simples e mais rápida. 

Finalizando, vale lembrar que todo projeto de redução de custos tem seus gastos e desperdícios, portanto é importante avaliar se tais reduções não justificariam um novo produto ao invés de mexer no atual. Assim, tudo seria devidamente aprimorado conforme as experiências anteriores, e um sistema operacional totalmente renovado e baseado em novas premissas do novo produto. 

Reduzir custos de um produto pode custar mais que a própria redução.

 

*Imagem de capa: Depositphotos.com

*O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.

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Pietro Perrone

Pietro Perrone

Mais de 45 anos de comprovada experiência em indústrias multinacionais, ocupando posições de Presidente, Vice-Presidente, Diretor Industrial, Gerente de Manufatura, Engenheiro de Manufatura, Gerente de Engenharia de Manufatura, Gerente de Produção.