Gestão de materiais na Indústria 4.0: o coração da cadência produtiva

Na era da automação inteligente, a gestão estratégica de materiais é chave para operar cadeias produtivas sob demanda, garantindo flexibilidade e eficiência industrial

Por: Pietro Perrone      25/11/2024

Na Indústria 4.0, a Gestão de Materiais chega a ser um dos fatores mais importantes na manutenção da cadência de uma Cadeia Produtiva, ficando somente atrás da Manutenção Industrial. A Cadência de uma Cadeia Produtiva, no meu entender, é o coração de uma Indústria 4.0, onde todos os processos devem ser automatizados e/ou controlados de forma digital.

Muitos pensam que a gestão de materiais de uma Cadeia Produtiva, se resume simplesmente na implantação de um sistema ERP, e, a partir daí, só lançar as demandas no sistema e colher as necessidades geradas. Esse procedimento pode até funcionar em uma Cadeia Produtiva que opera sob a filosofia de “lotes econômicos”, mas quando se opera “sob demanda”, as estratégias de gestão devem ser mais aprofundadas.

Logicamente existem Cadeias Produtivas com um mix entre lotes econômicos e sob demanda, porém, quando falamos de uma Ind 4.0, a segunda modalidade se sobrepõe à primeira na grande maioria dos casos. O importante aqui é entender que uma Cadeia Produtiva operada sob “lotes econômicos” pode até rodar sob a modalidade por “demanda”, porém o inverso não seria possível.

Lembrando que, uma das grandes vantagens em operar uma Cadeia Produtiva sob a filosofia de Indústria 4.0, é o fato de se produzir somente o que o mercado quer comprar e ponto final, isto é, sob demanda. Logicamente, as Cadeias Produtivas que operam sob a filosofia de lotes econômicos, irão continuar  a existir, devido às características específicas dos seus processos, por exemplo, os fornos de uma metalúrgica, onde o set up para troca de produtos é altamente custoso e demorado. 

Na Indústria 4.0, o planejamento estratégico deve evidenciar todos os principais gargalos e dificuldades/facilidades que um determinado ambiente operacional possa apresentar. Primeiramente deve convergir com as premissas utilizadas na elaboração do Plano de Negócios vigente (2ª edição da nossa coluna), garantindo assim a Previsibilidade dos Resultados e a Flexibilidade Operacional (4ª edição de nossa coluna). 


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Em seguida, alguns pontos críticos que devem ser analisados criteriosamente  durante a elaboração de um planejamento estratégico de gestão dos materiais:

  1. Matérias primas utilizadas: Aqui devemos avaliar a disponibilidade, tanto qualitativa e quantitativa, quanto geográfica e sazonal, dos materiais a serem utilizados, bem como a existência de canais de distribuição específicos na região onde o material será utilizado. Quanto mais sensíveis forem os pontos acima analisados, maiores e mais custosos serão os contingenciamentos a serem gerados, para evitarmos uma quebra da Cadência operacional devido a falta de Matéria Prima. Perfeita interação com as engenharias de produto e manufatura (12ª edição da nossa coluna) são importantíssimas, pois elas podem encontrar alternativas e discutir pontos críticos de caráter técnico e operacional, que eventualmente venham a aparecer. 
  2. Acesso às matérias primas: Aqui devemos avaliar os fatores “acessibilidade e movimentação do material” até a região onde será utilizado, comparando assim o menor risco versus o melhor custo benefício de uma aquisição. Pode ser que um fornecedor mais próximo, tenha um preço maior que aquele mais distante, porém deve-se agregar os fatores de risco existentes nas operações logísticas e alfandegárias, antes de efetivar a aquisição. Outro ponto importante seria a sua participação dentro de cada fornecedor escolhido, comparando o peso de sua compra versus o peso da compra dos demais clientes desse fornecedor. Sabemos que aqueles que compram mais tem uma prioridade maior no atendimento. Às vezes, pode ser mais inteligente comprar o item pronto de um fornecedor localizado mais próximo a fontes dessa matéria prima, do que trazê-la e processá-la internamente. São infindáveis as alternativas que devem ser avaliadas e colocadas em prática conforme o ambiente atual sugere, não deixando de lado a documentação histórica das decisões e/ou alterações. 
  3. Tecnologias operacionais aplicadas: Aqui devemos avaliar qual o conhecimento operacional existente em nossa Cadeia Produtiva, bem como o conhecimento dos  eventuais fornecedores, para manufaturar ou industrializar determinadas matérias primas, disponibilidade de equipamentos e investimentos necessários. Nunca esquecer a famosa Curva do Aprendizado, principalmente para novas tecnologias a serem aplicadas, pois ela existe em todos os casos sem exceção. Cada tipo de matéria prima pode requerer diferentes tecnologias para ser processado, sendo que muitas vezes o material mais barato exige uma tecnologia mais cara ou vice versa. Acho que não devemos copiar os concorrentes mas é importante entender como fazem, objetivando sempre fazer melhor e com menor custo operacional.  Nunca devemos deixar de considerar os volumes a serem produzidos, pois eles influenciam totalmente neste quesito.
  4. Análise material x processos em geral: Pequenas alterações no design ou nas especificações, podem trazer inúmeros benefícios nos passos e processos de uma Cadeia Produtiva, melhorando a produtividade, reduzindo a necessidade de investimentos, evitando contingenciamentos e simplificando o fluxo operacional. É muito comum a existência de produtos, cujos design são complicados e em nada  agregam no seu valor, mas custam muito para produzi-los. 
  5. Análise de custos = matéria prima + processo + custo de qualidade + frete: Logicamente, nesse ponto, entendo que não preciso comentar nada a respeito.


Nunca compare preços de uma matéria prima específica. Compare sempre o custo do produto final!!!!

 

*Imagem de capa: Depositphotos.com

*O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.

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Pietro Perrone

Mais de 45 anos de comprovada experiência em indústrias multinacionais, ocupando posições de Presidente, Vice-Presidente, Diretor Industrial, Gerente de Manufatura, Engenheiro de Manufatura, Gerente de Engenharia de Manufatura, Gerente de Produção.

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