Calculando o "índice de incompetência" de uma cadeia produtiva na indústria 4.0
Para uma cadeia produtiva eficiente é preciso eliminar fatores desagregadores de valor. Veja quais são alguns deles
Para uma cadeia produtiva eficiente é preciso eliminar fatores desagregadores de valor. Veja quais são alguns deles
O “índice de incompetência” nada mais é que a relação entre o custo da matéria-prima utilizada para produzir um determinado produto e seu respectivo preço de venda ao consumidor final. Quanto maior for esta diferença, maior a incompetência daquela cadeia produtiva ao transformar determinada matéria-prima em produto final.
Uma cadeia produtiva bem planejada e bem elaborada não deixa de ser uma obra de arte. É ela que irá agregar valor a um pedaço de aço, transformando-o em uma peça ou em um produto final. É importantíssimo lembrar que o montante de valor agregado a uma matéria-prima é crucial para o sucesso nas vendas do produto, e seu resultado operacional pode surpreender no plano de negócios da empresa.
Matéria-prima de qualidade; fretes e armazenagens; movimentações internas e externas; mãos de obra direta e indireta e perdas e ineficiências operacionais são os itens que agregam ou desagregam valor em um produto. A eficácia de uma cadeia produtiva vem exatamente da maneira como esses itens são aplicados, portanto, a ideia principal é tirar o máximo de aproveitamento dos métodos e processos planejados com o menor custo operacional possivel.
Leia todos os textos da coluna de Pietro Perrone sobre indústria 4.0
Sabemos, no entanto, que é praticamente impossível trabalhar com zero de ineficiência operacional, porém quanto maior for o balanço entre valor agregado positivo versus valor agregado negativo, mais eficaz se torna a cadeia produtiva.
É neste ponto que devemos focar nossa atenção e aplicar todo nosso conhecimento e criatividade, com o objetivo de reduzir ao mínimo as ineficiências.
Uma análise criteriosa em uma determinada cadeia produtiva chegará, por muitas vezes, a incríveis surpresas, com desperdícios que se sobrepõem aos “custos de fabricação” e que, muitas vezes, influenciam até os níveis do preço final do produto, afetando assim sua performance no ponto de venda.
Continua depois da publicidade |
Lembrem-se que as únicas regras imutáveis são aquelas decretadas pelas leis da física, portanto, analise bem os movimentos executados, espaços e ambientes ideais para cada processo, quais equipamentos funcionariam melhor, fluxo dos materiais e manuseio excessivo das peças pela área produtiva e adjacências.
Poderia citar vários fatores desagregadores de valor que devem ser eliminados de uma cadeia produtiva, na medida do lógico e do possível. Mas vamos citar apenas quatro deles. Veja a seguir:
As movimentações de peças e materiais, tanto interna como externamente, diria que é um dos maiores desagregadores de valor em uma cadeia produtiva. É bom lembrar que em uma indústria 4.0 qualquer movimentação de materiais deve ser controlada, registrada e monitorada. Portanto, os passeios que os materiais fazem têm um custo exorbitante e intangível, expõe o sistema ao erro e facilita o surgimento das não conformidades. Um layout bem planejado com manuseio adequado resolve pelo menos 80% dos problemas de fluxo de materiais de uma cadeia produtiva. Lembrando que a quantidade de material em processo deve ser mínima, muito bem rastreada e controles digitalizados.
A falta de cadência, além de proporcionar a criação de gargalos inesperados, gera necessidade adicional de capacidade produtiva em determinadas etapas dos processos. Vou aqui citar um exemplo prático que ocorre na vida cotidiana do cidadão motorista, que com certeza a grande maioria já vivenciou: quantas vezes, em uma rodovia, encontramos o trânsito congestionado e, ao passar pelo final do congestionamento, percebemos que nenhuma ocorrência aconteceu?
Pois bem, um dos maiores motivos que gera congestionamentos é porque a velocidade média dos motoristas não acompanha o limite planejado pela rodovia, por exemplo, de 100 km/hora. Quando tem radar ou então nas subidas, a velocidade cai para 70 km/hora e, quando não tem radar ou nas descidas, a velocidade vai a 130 km/hora. Aqueles que estão na maior velocidade chegam mais rápido próximo àqueles que estão em velocidade mais baixa, provocando, assim, soluços no fluxo de automóveis e gerando paradas na rodovia. Se todos mantivessem os 100km/hora planejados, economizaríamos tempo, combustível, freios e evitaríamos vários acidentes de colisão traseira.
A mesma coisa acontece numa cadeia produtiva desbalanceada e operada de maneira indisciplinada. Quando reduz a velocidade do fluxo, criam-se gargalos e acúmulo de materiais, e quando aumenta a velocidade, gera-se estresse dos equipamentos e consequentemente quebras e desgates desnecessários. Mais um custo intangível que desagrega valor do produto.
O desbalanceamento dos processos também proporciona excessos de material em determinadas etapas, gerando necessidade de controles adicionais e criando enormes dificuldades na rastreabilidade dos componentes. Se minha capacidade de vender determinado produto é igual a 1 mil peças/dia, não adianta produzir 2 mil subconjuntos/dia. O pensamento de balancear a cadeia produtiva utilizando-se de turnos de trabalho ou capacidade disponível de equipamentos não é a mais apropriada, pois gera excesso de controles adicionais, dificulta rastreabilidade e permite ocorrências de não conformidades.
Make or buy análise vai evidenciar os processos que a empresa realmente sabe fazer, deixando como alternativa a terceirização daqueles que não sabe. Toda cadeia produtiva tem um know-how de processos específicos, que, independentemente da razão, passaram a ser executados de forma mais eficiente que seus concorrentes. Portanto, coloque o foco neles e esforce-se para melhorá-los ainda mais. Seja eficiente naquilo que se propõe a fazer.
Foco total no objetivo, exagere nas contingências e seja realista nas expectativas!
*Imagem de capa: Depositphotos
Gostou? Então compartilhe: