A pandemia do coronavírus afetou a grande maioria das empresas. Ainda assim, é possível dizer que cada organização impactada foi atingida de uma forma diferente: algumas foram obrigadas a paralisar suas linhas por completo, enquanto outras estão tendo de se esforçar como nunca para atender a uma forte e inesperada demanda de consumo. De todo modo, em um caso ou no outro, as companhias estão percebendo que precisam inovar para se tornar mais ágeis e flexíveis, e que está na hora de mudarem o conceito de como seus projetos são convertidos em produtos.
Um exemplo claro dessa transformação é a produção dos ventiladores mecânicos. À medida que as hospitalizações por COVID-19 aumentam e os leitos de UTI se tornam mais escassos, temos visto a importância desses equipamentos para salvar vidas. Não por acaso, governos do mundo inteiro estão promovendo uma verdadeira corrida para comprar o máximo de ventiladores, e assim, atender a necessidade de suas populações. A demanda tem aumentado enormemente, mas nem sempre a produção consegue acompanhar e atender a todos com a rapidez suficiente.
Para superar esse cenário, hoje, há um esforço global frenético para fabricar mais máquinas de respiração, inclusive com o redirecionamento de várias linhas de produção já existentes em outros segmentos para a produção de ventiladores e de outros equipamentos de proteção individual (EPIs). O objetivo é garantir que esses produtos estejam sendo produzidos com qualidade e em First Time Right.
Ou seja, estamos correndo e mudando como nunca, aprendendo a fazer o que já fazíamos, mas de mil novas formas diferentes. Por quê? Para responder, podemos nos lembrar de duas lições de Charles Darwin para a nossa sobrevivência como espécie e que podem ser bastante úteis para a sobrevivência de nossas empresas.
Temos cinco pilares que estão definindo uma nova era de transformação industrial. A primeira lição é que “a sobrevivência de um organismo depende da sobrevivência de um outro”. Afinal, está claro que uma empresa depende de seus clientes para sobreviver e, da mesma forma, de seus fornecedores e parceiros de negócio. Notem, por favor, que este é um dos cinco pilares na definição dessa transformação, a integração vertical e horizontal da cadeia de valor. Isto é: integração do planejamento, otimização e operação da cadeia de valor, suportando produção orientada pela demanda.
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A segunda lição de Darwin vem da adaptação para garantir a sobrevivência: “na história da humanidade (e dos animais também), aqueles que aprenderam a colaborar e improvisar foram os que prevaleceram”. Este também é um dos cinco pilares: é necessário manter Engenharia como a conexão entre design, projeto, manufatura, operação e manutenção de produtos e serviços, usando a fusão entre os mundos real e virtual.
Integrar o virtual e o físico é algo já em execução quando pensamos em Computação em Nuvem, por exemplo. O problema é que as empresas aceitaram ter CRM e ERP em Cloud, mas o conceito de Engenharia em Cloud segue, ainda, com uma baixa aceitação do mercado. Com isso, diversos pontos do planejamento de produtos, projetos, infraestrutura, layout de fábrica e de produção que poderiam ser executados via home office hoje acabam sendo oportunidades apenas para as corporações que já aceitaram questionar sua verdadeira transformação digital antes da COVID-19. Isso atende a um terceiro pilar da transformação industrial: o do desenvolvimento e integração de sistemas de manufatura flexíveis e reconfiguráveis, totalmente integrados ao negócio das empresas.
O quarto pilar é a participação das pessoas. Basicamente porque são as pessoas que desenvolvem produtos e serviços, com o objetivo de atender pessoas e para melhorar a qualidade de vida da humanidade. Isso nos remete, no entanto, ao quinto pilar dessa lista: a Inovação, que exige cada vez mais a integração de diversas áreas do conhecimento e a utilização conjunta de tecnologias distintas.
Nesse cenário, a colaboração é um fator extremamente relevante para gerar inovação. Vale destacar, por exemplo, a própria produção de ventiladores mecânicos: hoje, empresas de diferentes mercados estão trabalhando em conjunto para desenvolver novos projetos mais baratos e simples. Elas são impulsionadas pelo propósito de compartilhar as informações necessárias para a produção de soluções que possam colaborar para salvar a vida das pessoas.
É a colaboração que nos permitirá produzir uma vacina em tempo recorde (um produto que não existia) e produzir respiradores (produto existente) para atender a demanda atual de forma eficiente, sem restrições ergonômicas ou logísticas. Temos um cenário extremamente desafiador e a união de esforços e a integração de recursos é o que nos levará mais longe.
Como faremos isso depois da pandemia? A resposta é a aplicação da fábrica do futuro hoje. Com a transformação da indústria, engenheiros de produção, planejadores, desenvolvedores de processos produtivos e encarregados do chão de fábrica conseguem continuar trabalhando em segurança e de forma produtiva, tendo uma verdadeira experiência de Gêmeo Virtual (Virtual Twin Experience) de todo o ambiente de manufatura. Enquanto a Indústria 4.0 manteve foco em digitalizar o passado em vez de imaginar a manufatura do futuro, o Renascimento da Indústria se preocupa com a sociedade e sobre sua relação com ela – tornando-se, quem sabe, um novo modelo de indústria, mais moderno e competitivo.
Vale salientar, evidentemente, que a experiência de Gêmeo Virtual vai muito além do que algumas empresas “vendem” como tal. Ter um modelo 3D da fábrica ou da linha de produção não é nem de perto a real oportunidade aberta por essa tecnologia. Ao contrário, a experiência de Gêmeo Virtual propõe a total replicação do ambiente de manufatura, incluindo o comportamento dos colaboradores e das máquinas, tempos de execução das tarefas, conexão aos equipamentos e de toda a planta. Essa capacidade oferece a chance de utilizar o ambiente virtual para prever e planejar toda e qualquer expansão ou mudança a ser aplicada nas tarefas. É a chance de conhecer o funcionamento completo da operação.
A pandemia está ampliando a urgência da transformação digital nas companhias. Será essencial pensar em novos layouts de fábrica, novos processos internos, novos modelos de trabalho etc. Isso é fato e quem não se adaptar, vai desaparecer.
As empresas provavelmente passarão por três etapas no processo de transformação: o enfrentamento da pandemia, que já está ocorrendo no Brasil desde março; a volta à “normalidade” na medida em que as restrições forem se flexibilizando; e, finalmente, a preparação para um “novo normal”, que ninguém sabe ainda como será. A transformação que mencionamos pode ajudar nas três etapas, dependendo da rapidez com que for adotada e implementada pelas empresas, e o uso de soluções em Nuvem é um caminho para acelerar a adoção deste novo modelo, em um momento de limitação de recursos para investimentos em CAPEX.
O fato é que já temos esta tecnologia disponível atualmente e podemos nos beneficiar dela, mas certamente não conseguiremos trabalhando da mesma forma que antes. Insanidade, segundo um ditado antigo, é fazer tudo sempre da mesma forma e esperar um resultado diferente. Isso não será mais aceitável nesse novo mundo, em que nada poderá ser feito sem colaboração e foco constante na inovação.
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