Pitch em inglês longe de casa para gringos na maior feira industrial do mundo e, supostamente, para pessoas que entendem mais daquele assunto que você. Será? É muito comum partirmos da crença de que, se estamos falando sobre tecnologia na Alemanha, definitivamente os alemães estarão sempre à frente de nós, afinal, estamos falando do berço da Indústria 4.0. Uma crença que diz muito sobre o potencial cultural, financeiro e de tradição tecnológica do país europeu, mas que também diz muito sobre a síndrome de vira-lata do brasileiro diante das potências globais. Mas será que isso corresponde à realidade? Chefes de internacionalização de indtechs brasileiras em missão na Alemanha podem, agora, discordar dessa crença.
BiG 2023 e a imersão das indtechs na Alemanha. Veja um trechinho desta história que ainda tem muito para contar. Imagens: YouTube/Julia Galdino
O cenário narrado no início deste artigo pode ser mamão com açúcar para muitos empresários experientes de grandes corporações, mas pode gerar angústia, medo, êxtase e animação para muitos empresários e profissionais que estão encarando o desafio da internacionalização pela primeira vez. E isso de fato aconteceu, com um grupo de dez indtechs brasileiras selecionadas no Programa Brazilian Indtechs in Germany - BiG 2023, que foi a primeira chamada de Inovação Aberta Internacional coorganizada pelo Findeslab, hub de inovação da indústria capixaba, Next Mannheim, hub alemão de inovação aberta entre indústrias e startups e a Embaixada Brasileira em Berlin.
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O programa, que tem como objetivo criar valor para indtechs brasileiras e, também, para as empresas industriais alemãs, incluiu uma grande programação às selecionadas. Uma fusão de treinamento, imersões, 3 dias de rodadas de negócios, visita à Hannover Messe, visita à fábrica da Phoenix Contact Blomberg, referência em implantação dos conceitos da indústria 4.0, intercâmbio cultural e mentoria entre pares.
As dez indtechs contempladas pelo BiG 2023 foram: Actiz (ES); Cogtive (SP); Dersalis (ES); Digimet by TERMICA Solutions (SC); Hedro (MG); InfiniteFoundry (SP); Livemes by Harbor (SC); Melvin (MG); QualityStorm (PR) e ST-One (PR).
Leia mais no Especial BiG 2023 do Ind4.0
Ressignificando o valor das soluções tecnológicas brasileiras
Entre os destaques da programação do BiG 2023 estava a participação das indtechs com tempo para apresentação de produtos e serviços no stand da CNI montado da Hannover Messe, que aconteceu em abril, em Hannover, na Alemanha.
O público de uma das maiores feiras do mundo, de fato costuma ser de alto nível e pode ser intimidador. Sem dúvida, a participação na feira foi um dos destaques da programação de acordo com os próprios participantes. Mas aquelas apresentações, em um inglês por vezes arranhado e tímido e por vezes descontraído e ousado, tratavam de compartilhar uma excelência de soluções de alta tecnologia para empresas de manufatura, até mesmo para estrangeiros.
Mas o programa foi pensado para isso, de maneira que a conexão entre os participantes, o treinamento e as reuniões que a antecederam, incluindo o próprio processo de seleção, os preparassem para esse momento, e claro, para negociar em um ambiente internacional.
Embora nem todos os participantes tivessem clareza disso - e você poderá conferir, em breve, a percepção de cada um deles nesta Série Especial BiG 2023 -, seus relatos da experiência deixaram claro como muitos empresários daqui ainda subestimam o próprio potencial tecnológico e qualificado do Brasil. Ainda é uma surpresa para muitos brasileiros identificar que sua solução está à altura de grandes potências.
“(...) Vi oportunidades para a Melvin lá. A automação é o ‘suprassumo’, mas a conectividade, nem tanto. Podemos agregar com nossa solução lá também! E mesmo que isso não venha a acontecer, é ótimo saber que estamos no caminho certo!”, escreveu Igor Silveira, da Melvin.
Dessa forma, mais do que (mas também a partir disso) Speed Datings, visita à Hannover Messe e possibilidades de negócios, a experiência mostrou aos brasileiros do grupo que o Brasil tem condições competitivas, também na Alemanha.
“Essa experiência me fez perceber o potencial das soluções brasileiras em contribuir com a transformação digital das empresas alemãs, ao mesmo tempo em que aprendemos com suas práticas de excelência”, escreveu Felippe Domingos, Chief Technical Officer na Actiz, sobre sua experiência.
Processo seletivo
A partir de uma seleção rigorosa, de 38 inscritas, 20 indtechs foram pré-selecionadas e somente 10 participaram de todo o programa, que iniciou suas atividades em março, com o Treinamento em Vendas e Marketing na Alemanha realizado por parceiros alemães (em inglês).
Os critérios mínimos de avaliação foram:
- Ser uma empresa que já atingiu seu Product Market Fit, com clientes pagantes no Brasil e na América Latina;
- Ter um Chief of Internationalization Officer designado com fluência em inglês;
- Ter clientes multinacionais;
- Ter vendido mais de 500 mil reais em 2022;
- Ter recursos para investir na Internacionalização.
As empresas ainda passaram por uma avaliação de uma banca técnica, que analisou aspectos como a compatibilidade do produto ao mercado alemão, a viabilidade de internacionalização da indtech de acordo com as informações apresentadas, o grau de adesão do produto ou solução proposta às demandas da indústria e a qualificação, experiência e dedicação prevista dos profissionais da empresa.
“Buscamos atrair indtechs com produtos maduros, já desenvolvidos e com clientes pagantes provando que os produtos tem valor. Dentre estes clientes, era importante alguns serem multinacionais, provando que já conheciam as etapas do ciclo de venda típicos destas corporações, incluindo compliance. A designação de um responsável pela internacionalização, que chamamos de CIO, foi importante para que este profissional fosse capacitado e propagasse este conhecimento para toda a equipe.”, comentou Claudio H. Goldbach, Conselheiro de Inovação e Idealizador do BiG.
Os participantes tiveram ainda a chance de optar por fazer a apresentação à banca técnica em inglês, de maneira que já se habituassem ao pitch em língua estrangeira, bem como a responder perguntas do cliente assim - ou da banca. Foram 8 minutos para apresentação e 20 minutos para perguntas e respostas.
A banca foi formada por profissionais como Pedro Ivo Ferraz da Silva, Chefe do Setor de Ciência, Tecnologia e Inovação da Embaixada do Brasil em Berlim, Lincoln Rezende, Head de Relacionamento com o Ecossistema do Programa iNO.VC ArcelorMittal, Max Pieper, responsável por Fusões e Aquisições e Fabio Bonini, Diretor de Vendas, ambos da Phoenix Contact.
“Fiquei positivamente surpreso com o nível de sofisticação tecnológica das empresas candidatas. Foi um processo de seleção muito difícil, mas que nos dá a certeza de que traremos para a Alemanha companhias que mostrarão um Brasil extremamente inovador e competitivo”, comentou Pedro Ivo da Embaixada do Brasil em Berlim.
E agora?
Além de continuar acompanhando a evolução dos negócios na Alemanha, o programa fará um giro de rodadas de negócios com indústrias em todo o Brasil, começando pelo Espírito Santo de 01 a 07 de junho. “Quanto melhor as indtechs brasileiras forem, melhor a indústria nacional será. Temos uma janela de oportunidade na indústria nacional, onde todo o mundo pode ganhar, pois a indústria brasileira tem tudo para ser líder mundial de manufatura verde, apoiado pelo digital.”, comemora Goldbach.
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A partir da próxima semana publicaremos quinzenalmente, às terças-feiras, o artigo assinado pelos chefes de internacionalização das indtechs brasileiras que participaram do BiG 2023. E no mesmo espaço desta série especial em parceria com o BiG 2023, você acompanhará, mensalmente, o conteúdo do podcast Boteco 4.0, uma produção da ABII com a Ocotea Filmes, que nesta temporada conta com os 10 participantes do BiG 2023.
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