Manufatura aditiva: Hype ou realidade?
Como todas as tecnologias disruptivas que aparecem no mercado, podemos afirmar que com a manufatura aditiva não foi diferente: houve seu período de expectativas infladas e vale da desilusão
22/07/2024Como todas as tecnologias disruptivas que aparecem no mercado, podemos afirmar que com a manufatura aditiva não foi diferente: houve seu período de expectativas infladas e vale da desilusão
22/07/2024Nas últimas semanas (assim como nos últimos anos), acompanhamos diversas fusões, aquisições, abertura de capital e encerramentos de empresas no mercado de manufatura aditiva. Só para citarmos algumas, temos:
Essas movimentações de mercado, com tantas “novelas e reviravoltas”, sempre trazem à tona o seguinte questionamento: A manufatura aditiva realmente é uma realidade ou é mais um hype de tecnologia?
Para tentar responder este questionamento, vale a pena explorarmos algumas questões.
O termo “hype” vem da abreviação da palavra “hyperbole”, significando exagero. No contexto de novas tecnologias, é cada vez mais comum usar este termo para apontar tendências tecnológicas. As “hypes tecnológicas” muitas vezes têm mais a ver com a publicidade e expectativa inflacionada do mercado gerada por determinada tecnologia do que com a tecnologia de forma específica. Isto apresenta pontos positivos e negativos, como: ajudar na atração de recursos para continuidade da pesquisa e desenvolvimento destas tecnologias, porém pode representar uma fonte de excesso da tecnologia, prejudicando a credibilidade e reputação.
Atualmente, estamos vivenciando a “hype” da Inteligência Artificial Generativa, estando todos entusiasmados com o que esta tecnologia pode trazer. Entretanto, o exagero das expectativas iniciais nas “hypes tecnológicas” pode trazer consigo enormes frustações à medida que a tecnologia “não entrega” o que estava se esperando.
Isto acontece, principalmente, à medida que as implantações das tecnologias começam a ser realizadas em negócios, no ambiente real, mostrando problemas e lacunas da tecnologia. Isto, em geral, acaba acontecendo no famoso “Vale da Desilusão” do Gartner Hype Cycle.
Como todas as tecnologias disruptivas que aparecem no mercado (internet, Inteligência artificial, Blockchain, realidade virtual, etc.), podemos afirmar que com a manufatura aditiva não foi diferente: houve seu período de expectativas infladas e vale da desilusão. Demonstrações impressionantes e promessas de inovação para indústria ajudaram neste processo de “inflar” as expectativas e, posteriormente, gerar grandes desilusões para alguns profissionais e empresas.
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Especialistas avaliam que, neste momento, estamos vivendo o declive da consolidação, para, enfim, chegarmos ao platô de produtividade. Apesar de ser uma tecnologia que surgiu na década de 1980, nos últimos 10 ou 20 anos ela começou a ser difundida e inserida na indústria com expectativas (ainda infladas) de resolver problemas como sustentabilidade, produção descentralizada, custos, etc. Entretanto, à medida que a tecnologia foi sendo utilizada nas indústrias, percebeu-se que não era simplesmente “apertar o botão de imprimir” que a “mágica” aconteceria. Arestas precisaram ser ajustadas, limitações foram descobertas e superadas, infraestruturas e processos precisaram ser montados – assim como todas outras tecnologias que conhecemos.
Hoje, a tecnologia passa por um ciclo de amadurecimento, no qual as expectativas são ajustadas com as capacidades da tecnologia e suas limitações. E, o mais importante, a tecnologia está sendo utilizada para resolver problemas tangíveis do mundo real!
A hype na manufatura aditiva ajudou a financiar série de melhorias e novos desenvolvimentos. Grandes descobertas e introduções surgiram, melhoria de processos, materiais, equipamentos, etc. Podemos destacar impactos positivos e negativos deste processo.
Impactos positivos:
Impactos negativos:
Podemos falar, que à medida que a hype reduz, voltamos à sanidade. Segundo o último relatório Wohlers, o uso da manufatura aditiva foi aplicado em 27,5% para protótipos funcionais e 30,5% peças de uso final. Como disse Terry Wohlers, no TCT Japão 2024, “há um forte apetite por funcionalidade, peças que funcionam, não são apenas para mostrar e contar”.
Em relação ao mercado, seu crescimento ocorre ano a ano, em taxas que varia de 15% a 25%. Para 2030, a expectativa é que mercado atinja US$ 89 bilhões, com crescimento previsto de 22% ao ano.
Com isto, podemos visualizar a manufatura aditiva como uma realidade e caminhando para o “platô de produtividade” do Garter Hype Cycle, onde haverá uma ampla aplicabilidade da tecnologia em todos os mercados e a indústria estará utilizando a tecnologia nos seus fluxos de trabalho.
Alcançar este platô pode ainda demorar de 10 a 15 anos, com base nos ciclos históricos das tecnologias. Mas, com um mercado cada vez mais sério e engajado ao usar a tecnologia, isto será apenas questão de tempo.
O Gartner Hype Cycle a seguir mostra que o uso da manufatura aditiva para prototipagem, por exemplo, está “consolidado”, sendo um dos principais métodos usados pela indústria para construção de protótipos. Além disso, os softwares de digitalização e criação 3D estão em ascensão, oferecendo possibilidades de ajustar rapidamente projetos-padrão às necessidades individuais.
Uma abordagem apresentada por especialistas é que devemos considerar a manufatura aditiva como uma “ferramenta” adicional à caixa de ferramentas das indústrias. Isto significa que, para alguns casos, a manufatura aditiva será a ferramenta principal a ser utilizada e, para outros casos, ela não será a mais indicada.
Essa percepção é importante, principalmente para amadurecimento da tecnologia e de suas aplicações. A compreensão de que padrões industriais devem ser seguidos, utilizando ferramentas e máquinas seguras e operadas por pessoal qualificado, é fundamental para a mudança de mentalidade e posicionamento das indústrias quanto as tecnologias de MA.
“O fim do ciclo de hype é o começo da sabedoria”, frase do Dr. Jim Walsh, publicado em The “hype cycle” is about the hype—not the technology.
E você, o que acha: a manufatura aditiva é um hype ou realidade?
*Imagem de capa: Depositphotos.com
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