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A Revolução 4.0 e seu impacto no desenvolvimento das smart cities no Brasil

No contexto da realidade brasileira, é essencial examinar o impacto da revolução 4.0 e do desenvolvimento das smart cities

Por: Wesley Sa Teles Guerra      17/07/2023

A Revolução 4.0, impulsionada por tecnologias como inteligência artificial (IA), internet das coisas (IoT), big data, realidade aumentada, entre outras tecnologias de ponta, está começando a transformar as cidades brasileiras. Este processo, que começou oficialmente em 2011 na Alemanha, após a aprovação de um plano de transformação industrial no país germânico, rapidamente se transformou em uma corrida internacional da qual o Brasil participa ativamente, embora limitado muitas vezes pela concentração dos projetos de P&D, baixo orçamento dedicado a pesquisa e fuga de profissionais qualificados.

As smart cities por outro lado, são uma tendência que surgiu em Barcelona com a criação do projeto 22@, sendo, por sua vez, uma continuação do processo de transformação que vem acontecendo na cidade desde que sediou os Jogos Olímpicos de 1992. Da mesma forma, transformou-se em um processo global com o incremento da participação das cidades na economia e política internacional devido a paradiplomacia e com a contínua expansão urbana em todo o mundo.

Com sua infraestrutura digital e soluções tecnológicas inovadoras, as smart cities têm o potencial de melhorar a eficiência dos serviços públicos, impulsionar a sustentabilidade e a qualidade de vida dos cidadãos - algo que diversas cidades almejam, mas que, muitas vezes, fica somente no discurso político ou como ações concentradas incapazes de impactar em toda a realidade do espaço urbano. Promovem-se, então, “bolhas inteligentes” ou espaços exclusivos para os cidadãos com maior renda e poder de consumo, em lugar de um processo democrático e igualitário.

No Brasil, temos distritos, bairros e projetos autoproclamados de cidades inteligentes, mas que continuam perpetuando as desigualdades e assimetrias socioeconômicas e demográficas da região, porém, aos poucos, vamos descobrindo o potencial desse tipo de projeto.

Impacto na economia brasileira

No contexto da globalização, a adoção de tecnologias da Revolução 4.0 pode ter um impacto significativo na economia brasileira.

A concentração das cadeias produtivas em determinados setores e regiões globais pode gerar dependência excessiva e vulnerabilidade em momentos de crise. Diversificar e fortalecer os setores produtivos e promover a inovação são desafios importantes a serem enfrentados e é nesse contexto onde o Brasil se encaixa.

Em um mundo onde a produção industrial se concentra na Ásia, o Brasil, ao ser um país ocidental e com uma ampla série de acordos econômicos, pode não somente aderir às cadeias de produção existentes como também oferecer alternativas. Isso, por sua vez, fortalecerá o sistema produtivo do país, gerando empregos e aumento de renda, embora o processo dependa de investimentos nestes dois campos, nas tecnologias inerentes da Revolução 4.0 e também na implementação de cidades inteligentes e regiões inteligentes.

Êxodo Rural e Desafios Sociais

O êxodo rural, fenômeno no qual pessoas deixam o campo em busca de melhores oportunidades nas cidades, é um dos desafios enfrentados pelo Brasil, porém não uma exclusividade. Nações desenvolvidas como Espanha, Itália e França enfrentam o mesmo problema.

Esse processo resulta em consequências negativas, como o declínio populacional, a perda de infraestrutura e serviços nas áreas rurais, bem como a sobrecarga das cidades em termos de habitação e serviços urbanos. Também reduz o potencial econômico de uma nação, já que se deixa de explorar todo o seu potencial geográfico.

Diversos autores têm contribuído para a compreensão dessas transformações. Na obra "Cadernos de Paradiplomacia e Paradiplomacy Reviews: The Rise of the Cities, Regions and Smart Cities", de minha autoria, encontramos reflexões importantes sobre a paradiplomacia na governança urbana e a importância da Revolução 4.0 além da implementação de smart cities e smart regions.

Sassia Sasken, em seu livro "Cities in the World" (2011), destaca a importância das políticas públicas inclusivas para lidar com a desigualdade no contexto da revolução 4.0, abordando como a cidade atua como centralizadora das demandas sociais e das dinâmicas que se projetam desde as distintas nações.

Porém, esta não é uma reflexão atual, já Henri Lefebvre, em sua obra "O Direito à Cidade" (1968), ressalta a importância do direito à cidade como um princípio fundamental para enfrentar os desafios urbanos, incluindo a desigualdade e a exclusão social, dando indicações de um processo contínuo que adere a novas dimensões sociais e à inclusão de novas tendências.

No campo da sociologia, Adela Cortina, em seu livro "Ética Aplicada e Democracia Radical" (2008), aborda a importância da ética e da justiça social na implementação das tecnologias da revolução 4.0, considerando os impactos sociais e o papel da participação cidadã, assim como a integração plena da cidadania.

Para enfrentar esses desafios apresentados pelos diversos especialistas das mais diversas áreas, é essencial promover a inclusão social e fortalecer a participação cidadã. Políticas públicas devem ser implementadas para mitigar as desigualdades socioeconômicas, garantindo acesso equitativo às tecnologias e oportunidades de desenvolvimento, já que, do contrário, projetos de implementação tecnológicos se transformam em barreiras e em áreas de exclusão - no lugar de uma real transformação.

A revolução 4.0 e o desenvolvimento das smart cities representam uma oportunidade de transformação para o Brasil. No entanto, é necessário enfrentar os desafios do êxodo rural, da desigualdade e da exclusão social. As contribuições de autores como Wesley Sá Teles Guerra, Sassia Sasken, Henri Lefebvre e Adela Cortina, por meio de suas obras, nos inspiram a buscar soluções inovadoras, promovendo a inclusão, a ética e a participação cidadã. Somente assim poderemos construir um futuro urbano mais justo e sustentável para todos no Brasil.

Bibliografia

GUERRA, Wesley Sá Teles. Cadernos de Paradiplomacia e Paradiplomacy Reviews: The Rise of the Cities, Regions and Smart Cities. 2022.
SASKEN, Sassia. Cities in the World. 2011.
LEFEBVRE, Henri. O Direito à Cidade. 1968.
CORTINA, Adela. Ética Aplicada e Democracia Radical. 2008.

 


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*Imagem de capa: Depositphotos

*O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.

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Wesley Sa Teles Guerra

Wesley Sa Teles Guerra

PhD Sociology, MSc Social Policies & Migrations, MSc SmartCities, M.A Agile/Scrum, MBA Int. Marketing, MBA Global Partnerships, PGDip International Relations; Paradiplomacy, internationalization and Smartcities; writer