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Indústria 4.0 - todos querem, mas poucos tem ideia de como chegar lá

A indústria 4.0 é uma oportunidade imensa para o Brasil, mas ainda falta compreensão e mão na massa.

Por: Renato Carlo Zacchello Leal      21/10/2018

No final da década de 1990 o mundo vivenciou uma enorme alta das ações das novas empresas de tecnologia da informação e comunicação (TIC) baseadas na Internet. O período de 1995 a 2000 foi caracterizado por um mercado inflacionado, em grande parte, por conta de privilégios concedidos pelo governo norte-americano para empresas ligadas à internet. Entretanto, além dos incentivos governamentais, muitos perceberam que os preços das ações de suas empresas basicamente disparariam ao se adicionar o prefixo “e-” ou o sufixo “.com”. 

No início deste século, estourou a bolha das .com e a leitura de Louis Gerstner, à época presidente da IBM, foi de que houve uma incompreensão generalizada do mercado. Ele diz em seu livro “Quem disse que elefantes não dançam” que o mercado demorou para entender que a parte mais importante do e-Business era o Business. Um ponto a se ressaltar é que o termo e-Business (negócio eletrônico) foi criado pelo próprio time de marketing da IBM para caracterizar negócios efetuados por meios eletrônicos, geralmente na Internet. 

Pode-se discutir se o mercado realmente demorou para olhar e analisar os negócios ou se o apetite de bancos, fundos de private equity e venture capital foi maior do que a avaliação dos riscos, que hoje, ao olhar para trás, parecem óbvios. Independente dos motivos que levaram à esta bolha, podemos utilizar o acontecido para mapear situações de disrupção semelhantes que a internet ainda pode causar em outras esferas.

 

É possível traçar um paralelo da revolução que a internet causou nos negócios  com o que acontece hoje na indústria. Com suas várias barreiras de entrada, normas, regulamentações e conservadorismo, finalmente a indústria começa a entrar de vez no mundo da internet e vice-versa. Para tangibilizar propostas de valor com utilização de alta tecnologia para indústrias, em 2012 o governo alemão criou o termo “Indústria 4.0” que ficou mundialmente famoso e representa a quarta revolução industrial.
 
Como brasileiros adoram modismos, pois são ótimas fontes de especulação, eventos, palestras, livros, etc, o termo pegou bem por aqui. Perecebe-se que todos querem suas indústrias no mundo 4.0, mas poucos têm ideia de como chegar lá. Para piorar a situação, a maioria das indústrias sequer investe o suficiente em tecnologia para serem chamadas de 3.0 e, muitas outras, nem mesmo 2.0.


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Parafraseando Louis Gerstner, o mercado em geral ainda não percebeu que a parte mais importante da Indústria 4.0 é a Indústria. Muitas startups “vendem” o conceito sem entender os reais problemas industriais. A verdade é que as tecnologias já existem, inclusive com fabricantes bem consolidados para várias delas. A verdadeira Inovação de Valor para a Indústria está no real conhecimento das tecnologias, dos processos industriais e da integração do todo.

Para isso, as empresas de integração e engenharia deverão desempenhar um papel protagonista, de forma a traduzir um leque infinito de tecnologias e transformá-lo em soluções completas e que realmente façam sentido e agreguem valor para a indústria. 

A indústria 4.0 é uma oportunidade imensa para o Brasil, se soubermos aproveitá-la de forma consistente. As indústrias do futuro deverão ser fabricadas como hoje se fabrica uma peça. Primeiro define-se parâmetros, depois modela-se uma versão digital e em seguida simula-se as condições de operação. É o conceito da planta digital. Com isto, plantas industriais eficientes poderão ser construídas e operadas em qualquer parte do mundo. A vantagem será para os países com alto potencial de consumo e que estejam próximos das matérias primas. Ou seja, neste novo contexto industrial, o Brasil tem enorme potencial de se destacar e voltar a crescer bem acima da média mundial.

Se arregaçarmos as mangas e soubermos aproveitar este momento, podemos deixar de ser o eterno país “do futuro” e virar um país do presente.

*O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.

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Renato Carlo Zacchello Leal

Renato Carlo Zacchello Leal

Fundador e CEO da GreyLogix Automação, empresa que há mais de 10 anos traz tecnologia de ponta para a indústria nacional. Engenheiro de automação (UFSC), pós graduado em gestão financeira (FGV) e marketing (INPG) e especialização em inovação (UC Berkeley). Aficcionado por inovação tecnológica e empreendedorismo.