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Grandes empresas invadem o ambiente acadêmico em busca da inovação

Em faculdade comunitária de São Bernardo do Campo, empresas de tecnologia investem em laboratórios e centro de soluções.

Nas primeiras duas reportagens da série Labs de Manufatura e a Tríplice Aliança, mostramos como o modelo de hélice tríplice é fundamental para o desenvolvimento deste tipo de estrutura e como as universidades federais, braço do estado, estão desempenhando papel fundamental neste setor. Um fato ficou evidente: a importância da parceria entre instituições de ensino e iniciativa privada para o desenvolvimento de soluções. Nesta terceira matéria, vamos mostrar como isso ocorre em universidades comunitárias e privadas no país. 

Um destaque é o Centro Universitário FEI, que fica em São Bernardo do Campo, São Paulo, e conta com um Laboratório de Manufatura Digital e parceria com grandes empresas, como Vivo, Siemens e Ericsson, no desenvolvimento de tecnologias.

O Laboratório de Manufatura Digital da FEI foi inaugurado em 2016 com o objetivo de fomentar o ensino e a pesquisa de sistemas na área de projetos, planejamento e gestão do ciclo de vida de um produto, bem como aproximar o meio acadêmico de empresas que atuam nesse setor a partir da realização de pesquisas e projetos em conjunto.

A instalação do laboratório contou com a parceria da Siemens PLM Software, unidade de negócios da Siemens Digital Factory Division. Segundo a FEI, a Siemens forneceu cem licenças do portfólio Tecnomatix, no valor de mais de R$ 3 milhões, que inclui tecnologias para planejamento de processos de manufatura, com soluções para validar processos robotizados como manipulação, solda a ponto e pintura. 

Desde então, o trabalho feito pela instituição nesta área tem sido reconhecido nacional e internacionalmente. Em 2018, o Centro Universitário FEI foi uma das Instituições premiadas com o Troféu Manufatura Avançada, entregue pela Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) e Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Máquinas e Equipamentos (IPDMAQ). O projeto apresentado demonstrou a linha conceito da manufatura avançada


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Para o professor do Departamento de Engenharia de Produção da FEI, Alexandre Massote, existe "o reconhecimento da comunidade industrial de que a FEI está inserida no contexto da manufatura avançada e que tem contribuído para o desenvolvimento e disseminação do conhecimento para o setor, colaborando para que as empresas façam uma transição produtiva para esta filosofia de produção".

Parceria com empresas em Centro de Soluções

Em 2021, com foco no desenvolvimento de novas aplicações à Indústria 4.0 e visando fomentar a digitalização de produtos, processos e serviços, o Centro Universitário FEI, a Vivo Empresas e Ericsson anunciaram a criação de um Centro de Soluções para explorar as potencialidades das redes da quinta geração. A iniciativa nasceu como um polo tecnológico e tem a Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês) como âncora das linhas de pesquisa e desenvolvimento

A infraestrutura do novo Centro, com sede no campus da FEI, em São Bernardo do Campo, conta com equipamentos da Ericsson e rede privativa 5G da Vivo. Além da conectividade, a Vivo tem papel fundamental na criação de novas aplicações a partir da experiência em inovação aberta, com dezenas de projetos desenvolvidos em parceria com startups direcionadas ao desenvolvimento de novos serviços digitais à indústria. 

“O 5G é fundamental para a digitalização do Brasil, tendo potencial de mudar significativamente a forma como vivemos e como as empresas fazem negócios. A nova rede será a base para a construção de um ecossistema mais amplo, com soluções que contemplam as novas demandas industriais, potencializadas por IoT, Inteligência Artificial e Robótica, com foco no aumento de eficiência e produtividade”, explica Diego Aguiar, head de Inovação, IoT e Big Data de B2B da Vivo.

A rede integra os recursos digitais de variadas regiões do campus, como dos laboratórios de manufatura digital, laboratório de indústria 4.0, laboratório de IoT, e também do Centro de Laboratórios Mecânicos da FEI, onde máquinas CNC adicionais estarão conectadas e operando de forma integrada. 

“Com a formalização dessa parceria, a FEI confirma e reforça seu olhar para as megatendências das próximas décadas, o que inclui a manufatura digital e inteligente, em um contexto de integração e conectividade que representa a base da Quarta Revolução Industrial. Ganham a FEI e os parceiros pelo acesso e desenvolvimento de tecnologias de última geração, a indústria brasileira pelo suporte à inovação, produtividade e competitividade e os alunos que estarão vivenciando a construção desses novos mercados e dinâmicas baseados em negócios e arquiteturas conectadas e inteligentes”, comemorou na época o reitor da FEI, Gustavo Donato. 

No Centro de Soluções, a FEI atua como plataforma para desenvolvimento, testes, treinamento e demonstrações de aplicações IoT industriais utilizando conectividade 5G, tanto para alunos como para a Indústria 4.0, tornando-se centro de referência de tecnologia 5G e IoT para diversos segmentos.

Curioriosidade: Manufatura no Carnaval

Em 2020, a FEI foi convidada pela Sociedade Rosas de Ouro a ajudar a escola no Carnaval. A instituição contribuiu em quatro áreas distintas do projeto: o desenvolvimento de uma versão 3D e outra em realidade aumentada do carro abre alas, quatro braços mecânicos robotizados - sendo dois no carro abre alas e um no carro 3, simulando o processo de montagem de um cérebro. Além disso, no apoio à bateria, os alunos programaram um robô que entregou as baquetas aos ritmistas. O samba-enredo da escola se chamava "Tempos Modernos".

Ao público, por meio do aplicativo Carnaval 4.0, foi possível ver dois carros em realidade aumentada. Ainda dentro do aplicativo, a FEI desenvolveu um quiz interativo sobre as transformações digitais que vivemos, com o objetivo de levar conhecimento sobre o tema ao público. 

Outros exemplos pelo país

Em 2018, a Facens, que fica em Sorocaba, São Paulo, inaugurou o Laboratório de Manufatura Avançada 4.0, um espaço integrado que segue conceitos da Indústria 4.0 para que estudantes, professores e empresas da cidade e região tenham acesso às mais novas tecnologias e ferramentas. Um dos exemplos de práticas realizadas no local é robô industrial em base deslizante servoacionada capaz de detectar e prever problemas no maquinário de uma determinada empresa, e softwares como o Ciros Automation Suite, que ajuda na automação e na agilidade de processos, e o CNC Win NC, ideal para programar máquinas

Além do novo Laboratório de Manufatura Avançada 4.0, o Smart Campus Facens conta o Facens Centro de Empreendedorismo (Face), o Laboratório de Inovação Social (LIS), o Laboratório de Inovação em Games e Apps (Liga), o Laboratório de Inovação e Competições de Engenharia (Lince) e o Fab Lab Facens, primeiro laboratório de fabricação digital do interior de São Paulo.

Já no Sul do país, a Escola Politécnica da PUC-RS mantém o Laboratório de Manufatura Integrada por Computador (LabCIM), que tem o objetivo de proporcionar o desenvolvimento e disseminação de conhecimentos e tecnologias, planejamento e operação de sistemas automatizados de produção, treinamento de pessoal especializado e desenvolvimento de tecnologias adaptadas à realidade brasileira na área.

Atualmente, o laboratório atende as atividades práticas das disciplinas dos cursos de Engenharia Mecânica, Engenharia de Controle e Automação e Engenharia de Produção, em áreas como programação de robôs, sistemas robotizados, sistemas de produção, entre outras. O LabCIM dispõe de uma área de 200 metros quadrados, que incluem laboratório de ensino em manufatura integrada e laboratório de robótica.

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Laboratório de Manufatura Integrada por Computador (LabCIM). Imagem: Jonathan_Heckler/PUC-RS

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Confira as próximas matérias da série Labs de Manufatura e a Tríplice Aliança:

  • Organizações investem em pesquisa e estruturam laboratórios de manufatura de ponta
  • E o governo? O que o poder público pode fazer para ampliar investimentos nos laboratórios de manufatura