O ser humano no centro da indústria 4.0

Por: Carlos Paiola      10/07/2023

A Indústria 4.0 acelerou consideravelmente a velocidade de adoção de novas tecnologias pelas indústrias. Umas das grandes consequências é que a fronteira em humanos e máquinas muda diariamente e, em alguns momentos, de maneira drástica. 

O fato é que a tecnologia altera não somente a forma como trabalhamos; ela também altera significativamente o conteúdo do trabalho e as habilidades necessárias para sua execução. Ela acaba por ditar quais empregos são descontinuados ou valorizados e, até mesmo, quais são criados. 

O emprego de tecnologia é o que tem feito a diferença na busca da competitividade das empresas, mas também traz maior sustentabilidade ambiental e social para o negócio, normalmente levando ao menor consumo de água, energia e de outros insumos, além de gerar produtos de maior qualidade para o consumidor.

Entender como as diferentes tecnologias afetarão o trabalho é crucial para determinar os próximos passos de cada profissional, pois é ele que estará no “olho do furacão”, bem no centro da Indústria 4.0 – ou não. Caso não seja capaz de entender as novas tecnologias, sua terminologia, sua utilidade prática e não tenha a menor ideia de casos de aplicação que resultaram em sucesso (ou insucesso), esse profissional decretará sua obsolescência e será arrastado para longe pelo turbilhão criado por esse movimento que vivemos. 

Pensando nisso, decidimos gerar artigos que auxiliem os profissionais da indústria brasileira a entender seu papel dentro do contexto da Quarta Revolução Industrial e a manterem-se atualizados sobre as principais tecnologias habilitadoras (IoT, IA, Cloud, Realidade Aumentada etc.), metodologias de implantação, casos reais da indústria, personagens relevantes (associações, iniciativas do governo etc.), relatórios, preocupações com cybersecurity, ESG, entre outros assuntos relevantes. Nosso objetivo é suportar o desenvolvimento profissional de nosso leitor, trazendo ferramentas para participar ou, até mesmo, protagonizar iniciativas da Indústria 4.0 dentro de sua indústria.


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Começaremos discutindo algumas informações recém-publicadas pelo Fórum Econômico Mundial (WEF – World Economic Forum) sobre o futuro do trabalho. Esse relatório, o Future of Jobs Report, é publicado a cada 2 anos e traz projeções muito interessantes dentro de uma janela de 5 anos, considerando a pesquisa das expectativas de empregadores em 803 empresas, responsáveis por mais de 11 milhões de trabalhadores em 27 clusters industriais e em 45 países de diferentes regiões, incluindo o Brasil. 

Analisando o Relatório sobre o Futuro do Trabalho

O relatório “Futuro do Trabalho” do WEF possibilita uma série de análises valiosas sobre como as tendências socioeconômicas e tecnológicas moldarão o local e o conteúdo do trabalho do futuro, trazendo projeções para 2027 e, portanto, dando importantes dicas sobre quais devem ser nossas ações hoje para que estejamos preparados para as mudanças.

Na Figura 1 podemos observar que a expectativa dos executivos para a adoção de tecnologias até 2027 continua alta, como nas pesquisas anteriores.

Figura 1: Adoção de tecnologias até 2027 (Fonte: World Economic Forum, Future of Jobs Survey 2023, pag.24)

Tecnologias para Internet das Coisas (IoT), Big Data, Computação em Nuvem (Cloud) e Inteligência Artificial (AI) mantem-se presentes no topo da lista, com 75% ou mais das empresas buscando adotá-las nos próximos cinco anos.

Os resultados também mostram o impacto da digitalização no comércio, com a intenção de mais de 86% dos respondentes em implantar plataformas e aplicativos digitais e de 75% apresentarem a intenção de implantar e-commerce. 

Também se destaca a consequente (e bem fundada!) preocupação com cibersegurança, uma vez que praticamente todas as iniciativas tecnológicas implicam no aumento da integração entre diferentes sistemas computacionais, do chão de fábrica ao nível corporativo, ampliando também o risco de incidentes digitais como invasão, roubo de dados e paradas na produção. Mais de 75% dos respondentes pretendem, portanto, implantar tecnologias para mitigar tais riscos.

É certo que a implantação de novas tecnologias traz consigo grandes oportunidades, mas também resultam em uma série de desafios para as empresas. Questionadas sobre as principais barreiras de adoção, as empresas trouxeram respostas muito interessantes, apresentadas na Figura 2.

Figura 2: Barreiras de Adoção (Fonte: World Economic Forum, Future of Jobs Survey 2023, pag.49)

O que mais chama nossa atenção é que 4 das 6 maiores barreiras para a adoção tecnológica estão relacionadas às pessoas. Mais da metade dos respondentes destacaram a falta de habilidades importantes aos profissionais disponíveis no mercado de trabalho e a inabilidade em atrair novos talentos. Também ficou clara a deficiência entre os líderes das organizações, muitas vezes incapazes de entender as oportunidades de melhoria e como relacioná-las a possíveis soluções tecnológicas. Ou seja, o ser humano continua no centro da Indústria 4.0, para o bem ou para o mal.

Tendo isso em vista, as empresas também foram questionadas sobre quais seriam as habilidades mais importantes e desejáveis para seus colaboradores. A Figura 3, em ordem decrescente, traz a proporção de organizações pesquisadas para cada habilidade considerada essencial. 

Figura 3: Habilidades Essenciais (Fonte: World Economic Forum, Future of Jobs Survey 2023, pag.38)

Habilidades cognitivas como “pensamento analítico” e “pensamento criativo” estão no topo da lista. Elas são logo seguidas de uma série de habilidades de autoeficácia como “resiliência, flexibilidade e agilidade”, “motivação e autoconsciência” e “curiosidade e aprendizagem ao longo da vida”, demonstrando a importância da capacidade dos colaboradores de se adaptarem à acelerada evolução tecnológica que vivemos. Ainda dentro das dez mais importantes habilidades, encontram-se duas relacionadas ao trabalho interpessoal: “empatia e escuta ativa” e “liderança e influência social”.

É fato que a adoção da tecnologia continuará sendo um dos fatores mais importantes para a transformação dos negócios. Mais de 85% das organizações pesquisadas identificaram o aumento da adoção de tecnologias novas e de ponta e a ampliação do acesso digital como as tendências com maior probabilidade de impulsionar a transformação em suas empresas. 

A aplicação mais abrangente dos padrões ambientais, sociais e de governança (ESG) também terá um impacto bastante significativo, ainda mais no Brasil, se observarmos o extrato da pesquisa relacionado exclusivamente ao nosso país. Um total de 70% dos respondentes brasileiros entende que essa será uma das tendências que terá maior efeito na criação de novas posições de trabalho nos próximos anos.

Outras tendências de grande impacto macroeconômico foram: o aumento do custo de vida, o crescimento econômico desacelerando e o impacto dos investimentos para impulsionar a transição verde.

E você? Onde sua função e a da sua empresa se encaixam dentro desse cenário? Você tem se preparado para o que está por vir? 

Independente de suas respostas, mantenha-se sempre atualizado, pois as mudanças têm sido cada vez mais velozes. Procure por capacitações que o tornem cada vez mais multidisciplinar e versátil. Atualize-se sobre as mais recentes tecnologias e entenda suas aplicações, pois muito em breve você poderá precisar colocar em prática todo esse conhecimento.

 

*Imagem de capa: Depositphotos

*O conteúdo e a opinião expressa neste artigo não representam a opinião do Grupo CIMM e são de responsabilidade do autor.

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Carlos Paiola

É mestre em engenharia de sistemas e graduado em engenharia de automação e controle pela Poli/USP – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Tem experiência em projetos de integração de sistemas e atua com softwares líderes de mercado para automação e gestão industrial. É autor de artigos sobre gestão de operações, supervisão e controle e normas ISA (The International Society of Automation) em revistas e congressos técnicos e científicos. É sócio e diretor de marketing e administrativo da Aquarius Software. É o atual presidente da ISA São Paulo Section e foi o primeiro presidente e fundador da seção estudantil poli/USP.

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