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"Empresas mais digitalizadas estavam mais preparadas para gerenciar em meio a pandemia"

Em entrevista, diretor da ABII, Marcelo Gramigna, fala sobre sua formação, rotina e relação da pandemia com a tecnologia.

Por: ABII      30/07/2020 

Marcelo Gramigna tem 43 anos e nasceu no Rio de Janeiro. É formado em Sistemas de informação e pós-graduado em Engenharia de Produção. Atualmente, é diretor da Associação Brasileira de Internet Industrial (ABII) e neste ano também completou uma jornada de 20 anos atuando na Datasul e depois TOTVS em Joinville. Nesta entrevista ele conta um pouco sobre sua formação, sua rotina, como iniciou as atividades na ABII e como esta vendo a relação da pandemia com a tecnologia.

Nas próximas semanas você confere outras entrevistas com os integrantes da diretoria, que permanece à frente da ABII até abril de 2022. É uma forma de inspirar e aproximar você da nossa entidade, que estará comemorando quatro anos de fundação no dia 10 de agosto. A ABII atua com o objetivo de promover o crescimento e o fortalecimento da indústria 4.0 e da IIoT (Industrial Internet of Things) no Brasil. Boa leitura!

Marcelo Gramigna é diretor da ABII. Foto: Divulgação/ABII

Conte um pouco sobre sua trajetória profissional? Como foi o início e como é hoje?

Gramigna - Iniciei minha vida profissional em 1996 trabalhando com meu irmão em sua loja que fornece produtos de informática e materiais para escritório. Neste mesmo ano ingressei na Faculdade no curso de Sistemas de informação. Em meados de 1999, estava fazendo estágio na empresa Ceval Alimentos e me recordo de ter trabalhando bastante na virada para o ano 2000 na qual, existia a grande preocupação do bug do milênio. Em fevereiro de 2000 entro na Datasul (atualmente TOTVS) e aqui efetivamente começa minha jornada profissional. Na época, a Datasul tinha uma estrutura por franquias de negócios e entrei na unidade de Manufatura. Confesso que no primeiro momento não conhecia muito do assunto, mas me identifiquei e resolvi me dedicar inteiramente para aprender tudo sobre indústria, conceitos e modelos de produção. Estou na TOTVS até hoje e em 2020 completei 20 anos de empresa, dedicado para tecnologia da informação construindo soluções especializadas para as indústrias buscando aumentar produtividade, ganhos operacionais e melhores práticas de fabricação através dos nossos softwares (Datasul, Protheus e Logix) e projetos com tecnologia RFID (radio Frequency Identification). Durante os últimos 20 anos na Datasul + TOTVS, passei praticamente por todas as áreas sendo: Desenvolvimento, suporte, serviços de implantação, apoio a venda, consultoria, equipes comerciais e liderando equipes de produtos especializados.


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Atualmente, sou Product Manager do segmento manufatura da TOTVS direcionando a evolução do produto (roadmap) através da aplicação de novas tecnologias e modelos produtivos. Trabalhamos no modelo Ágil de desenvolvimento que nos permitiu grandes avanços em metodologia, qualidade no software e conectividade entre as demandas dos clientes e evolução dos nossos produtos.

No período entre 2004 a 2008 fui Professor Universitário na UDESC - Universidade do Estado de Santa Catarina e também no SENAI na qual ministrava disciplinas de Engenharia, Planejamento da Produção, Controle de Produção, chão de Fábrica e custos industriais e supply chain em geral. Durante o período de 2012 a 2014 me dediquei a estudar para a ACPICS (American Production And Inventory Control Society) sendo aprovado nas seguintes provas: Basic of Supply Chain Management, Master Planning of Resources e Detailed Scheduling and Planning.

Você continua estudando? Como o estudo se encaixa na sua rotina atual?

Gramigna - O estudo tem que ser constante. Busco estar envolvido em assuntos e comunidades relacionados a tecnologias e conteúdos direcionadas para melhores práticas de manufatura e indústria 4.0. Procuro ler bastante e interagir constantemente com profissionais desses mercados. Esse estudo muitas vezes acaba sendo pelo nosso amigo inseparável smartphone geralmente no final do dia ou já no início da manhã.

Qual foi o momento de maior aprendizado profissional que você teve?

Gramigna - Entendo que tive dois momentos de grande aprendizado. O primeiro, foi no início da minha carreira na Datasul (TOTVS) onde identifiquei diversas oportunidades na manufatura e para isso, resolvi realmente mergulhar profundamente em capacitação. As visitas em clientes foram fundamentais para entender o dia-a-dia de uma indústria e buscar soluções. O segundo momento, foi agora nos últimos 3 anos onde me aprofundei no tema Indústria 4.0 e a ABII me ajudou muito nesse contexto por estar envolvido com outras grandes empresas e profissionais qualificados  que estão inteiramente conectados neste contexto. Nos últimos dois anos, realizei diversas palestras sobre o tema Indústria 4.0 e Transformação digital, seja representando a TOTVS ou ABII nas mais variadas regiões do Brasil.

Uma dica para um jovem que está iniciando sua jornada profissional:

Gramigna - A primeira dica é o que todos falam: estude, estude e estude. Porém, hoje eu diria que é fundamental ter outras características como: flexibilidade para mudanças, inteligência emocional e saber trabalhar em grupo.

Liderança e inovação são fundamentais? 

Gramigna - Sem dúvida! Inovação tem que estar no DNA de todas as empresas e ser o foco a cada dia. A pergunta que se deve fazer todos os dias é: 'meu produto ou serviço vai existir no futuro próximo? Que produtos e serviços as principais empresas do mundo estão oferecendo e como está sendo o perfil de consumo?' As lideranças precisam refletir e discutir esses pontos rotineiramente olhando a sua cadeia direta de abastecimento e todos os demais níveis.

Como você chegou a ABII e se tornou um dos diretores? É um trabalho totalmente voluntário, certo? 

Gramigna - Meu papel na TOTVS é buscar tendências e oportunidades que possam agregar as nossas soluções de manufatura. Em 2017 surgiu a ABII e como eu já estava mergulhado no mundo Indústria 4.0, sugeri nos associarmos. Estou participando da ABII desde o primeiro encontro nacional e durante esses pouco mais de 3 anos de caminhada, fui líder do GT negócios e em 2019 recebi o convite para fazer parte da diretoria. O trabalho é totalmente voluntário na ABII, mas no meu caso coloco como uma extensão da minhas atividades na TOTVS.

Qual a importância da ABII no atual contexto do país?

Gramigna - ABII tem como missão ajudar as empresas a acelerar a adoção da Internet Industrial no Brasil. Nesses 3 anos muito foi feito com a participação de todas as empresas associadas. Os encontros nacionais da ABII são entregáveis com conteúdo muito rico, compartilhamento de informações, network e ações estratégicas definidas em cada GT. A ABII apesar do pouco tempo, já é reconhecida por todos os órgãos governamentais envolvidos neste contexto e se torna a cada dia mais importante para a jornada de transformação e conectividade.

Especificamente neste momento que estamos enfrentando uma pandemia qual o papel da tecnologia?

Gramigna - Não tenho dúvida que a tecnologia é a base para o Brasil superar de forma mais rápida esse momento. É fundamental que nossas indústrias identifiquem que o momento agora é de "relargada"  e se desenha para novos modelos produtivos com cadeias de abastecimentos mais regionais e menos globais. Porém, precisam investir nos requisitos mínimos para aproveitar as oportunidades e elevar os índices de produtividades e esse é o momento ideal para mergulhar na jornada da Indústria 4.0, digitalizando processos e operações.

Você acredita que vamos para outro patamar de utilização das tecnologias da indústria 4.0 após a pandemia?

Gramigna - A pandemia já nos mostrou que as empresas mais digitalizadas estavam mais preparadas para gerenciar suas operações em meio à crise. O grande aumento na procura de soluções em nuvem (Cloud) demonstra essa situação. Nos últimos anos, o Brasil vem caindo no ranking de produtividade e uso de tecnologias da internet industrial certamente vão ajudar a elevar esse patamar gerando assim, maior sincronismo nas fábricas, visibilidade das informações estratégicas e estruturação dos dados para otimização com ganhos de produtividade.

Qual a importância das pessoas na transformação digital?

Gramigna - Esse é um ponto fundamental, pesquisas revelam que o diferencial das "empresas destaques" é que estão investindo principalmente em pessoas demonstrando que esse fator é determinante para o sucesso das indústrias. Soluções que endereçam a transformação digital, só evoluem dentro das indústrias quando existe um profundo investimento em capacitação e pessoas chaves que mantenham essa roda girando e capacitando novos profissionais que entram na empresa. Caso contrário, soluções mais sofisticadas começam a deixar de ser utilizadas e profissionais mergulham em sua zona de conforto com controle e gestões paralelas e informais.

Quem é seu guru, sua fonte de inspiração? O que aprendeu?

Gramigna - Não tenho exatamente um guru, tenho amigos e contatos profissionais que foram essenciais para o meu crescimento pessoal e profissional compartilhando conhecimentos e experiências.

Como está sendo a sua quarentena? O que você está lendo ou vendo de interessante?

Gramigna - Durante a quarentena que estou em home office. Além de trabalhar mais tenho focado a leitura em sites e assistindo webinars nos seguintes temas:

  • Product Discovery que é um passo muito importante dentro da metodologia de desenvolvimento ágil que busca a descoberta de produto. Depois de saber os problemas e necessidades dos clientes, é hora de definir o mínimo produto viável e/ou protótipo.
  • Global to Local como as indústrias estão enxergando e se mexendo para essa mudança onde as cadeias de abastecimentos em geral tendem a se reinventar gerando novos mercados, negócios e maior giro da economia em pontos hoje menos utilizados.
  • Economia e investimentos esse momento está sendo o de maior impacto econômico mundial e traz bons ensinamentos que precisam ser absorvidos.

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