Diante da pandemia, fornecedores focam na sobrevivência da cadeia automotiva

Lideranças da Bosch, Cummins e ArcelorMittal falaram sobre os desafios da pandemia durante Live #ABX20

Se a pandemia de Covid-19 já causa estragos significativos nos negócios de companhias automotivas globais, a situação é ainda mais crítica entre as empresas menores, de capital nacional. “Já começamos a ver baixas na cadeia de valor e esta é uma realidade inevitável. Estamos desenvolvendo um trabalho para apoiar estes parceiros”, conta Besaliel Botelho, presidente da Bosch América Latina.

O executivo participou de Live #ABX20 na quarta-feira, 13, ao lado de Luís Afonso Pasquotto, vice-Presidente da Cummins Inc e presidente da Cummins Brasil, e de Gustavo Levy Canaan, diretor de vendas corporativas da ArcelorMittal. Os três concordaram que o momento demanda uma dose extra de colaboração.

Botelho contou que a Bosch tem apoiado seus parceiros na busca por crédito e liquidez, já que as iniciativas anunciadas pelo governo neste sentido “não estão chegando na ponta”, onde são mais necessárias. Já a Cummins tem oferecido ajuda técnica aos parceiros até mesmo na gestão para atravessar este momento, como conta Pasquotto.

Na estratégia de negócio, a empresa está priorizando o aumento da nacionalização para reduzir custos com o dólar elevado – o que também pode trazer fôlego aos fornecedores. Segundo ele, os principais componentes usados pela companhia já são feitos no Brasil, mas há uma série de outras possibilidades para localizar itens menores.

“Aumentar a nacionalização é uma prioridade para nós. Todos os fornecedores que enxergarem oportunidades neste sentido podem nos procurar porque o nosso time de compras está disponível”, diz o Pasquotto.

Canaan, da ArcelorMittal, aponta que a companhia tem recebido uma série de consultas justamente por causa da demanda por produzir no Brasil componentes que eram importados até então. “Neste momento, estamos sensíveis para ajudar nossos clientes e fornecedores que estão precisando ou tinham projetos de investimento nesse sentido”, afirma.


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O futuro após pandemia

Besaliel, da Bosch, aponta que depois do baque inicial da crise, que forçou a empresa a dar férias coletivas e adotar medidas de redução da jornada e dos salários por meio da MP 936, a expectativa é de que as atividades sigam fortemente afetada nos próximos meses. O executivo avalia que os resultados dos anos seguintes também serão afetados pela atual crise.

“Nós já vínhamos com volumes baixos nos últimos anos no Brasil. Esta crise agrava ainda mais a situação”, diz Botelho.
Na Cummins, Pasquotto conta que a produção de motores foi retomada com capacidade reduzida em 50%. O executivo diz que a diminuição do ritmo foi menor na área de filtros e aftermarket, que está em compasso 25% inferior ao de antes da pandemia. O executivo conta que o cenário futuro ainda é muito nebuloso porque qualquer evolução está relacionada ao controle ou não da contaminação por coronavírus.

Na ArcelorMittal, Canaan identificou redução imediata de 70% na demanda por aço para o setor automotivo. “Este número melhorou um pouco e esperamos fechar o ano com ritmo 30% menor”, projeta.

Euro 6 e Rota 2030 não são prioridade

Apesar da crise, o setor automotivo têm marcos regulatórios importantes pela frente, com metas de segurança para 2022, eficiência energética para veículos leves em 2023 e, no caso dos pesados, o Proconve P8, ou Euro 6, nova legislação de emissões do segmento.

Botelho entende que não é o momento de discutir uma revisão de prazos para estas regulamentações. “É uma discussão que precisaremos fazer depois – até porque atender metas de segurança e emissões é essencial”, avalia. E prossegue:

“Não podemos dizer ao governo neste momento que vamos continuar a fazer carros mais poluentes e menos seguros porque estamos com problemas de caixa.”


Já Pasquotto diz que a Cummins está preparada para o Euro 6, mas que este não é o principal desafio do setor. O executivo lembra que a renovação da frota com substituição de veículos antigos que estão em circulação geraria um impacto ambiental maior do que simplesmente introduzir tecnologia em caminhões novos.

Sem dar números, o executivo admite que, por causa da pandemia, a empresa vai reduzir os investimentos programados para o Brasil, mas que fará isso de forma inteligente. “Vamos esperar para fazer melhorias nos nossos prédios, por exemplo, mas manter aportes em saúde, nas pessoas, e também em digitalização para melhorar a competitividade e sustentabilidade do negócio”, esclarece.