Para membro do IEEE, Manufatura Avançada ainda é cara mas será a solução da indústria

O professor na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e membro sênior do Instituto de Engenheiros Eletricistas Eletrônicos, Paulo Miyagi, fala sobre as principais tecnologias relacionadas à Indústria 4.0.

A tecnologia vem aperfeiçoando e conduzindo inovações no desenvolvimento da fabricação de produtos de diversas maneiras. Segundo especialistas, três tecnologias vão mudar e redefinir a indústria de manufatura, baseadas em suas projeções de crescimento até o ano de 2020: Inteligência Artificial (IA), $5.05 Bilhões; Realidades Aumentada (RA) e Virtual (RV), $162 Bilhões e Impressão 3D, $35 Bilhões de dólares.

Durante os próximos anos, os computadores se tornarão autossuficientes e a previsão é que no ano de 2020, 85% das interações com os consumidores não seja mais feita por seres humanos, e sim pela própria máquina. Segundo Paulo Miyagi, professor na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo na área de automação da manufatura e membro sênior do Instituto de Engenheiros Eletricistas Eletrônicos - IEEE, “a utilização das técnicas de Inteligência Artificial pode ajudar os profissionais a tomar decisões. Por exemplo, quando surge uma dúvida sobre qual caminho seguir em um processo, a IA pode mostrar quais seriam os possíveis resultados. Em muitas situações não há a solução ideal, realmente vai depender do decisor. A IA pode dar essas ferramentas para a pessoa”.

Outro uso da Inteligência Artificial nas indústrias, segundo o professor, é a capacitação de profissionais. Ele explica que “em muitos casos os equipamentos, as máquinas, estão cada vez mais sofisticados, o que torna impossível treinar uma pessoa plenamente para isso. Os recursos computacionais e novas tecnologias facilitam fazer um sistema que treine o profissional gradativamente, ao passo que ele acessa o sistema”.

Realidade virtual e realidade aumentada

Considerando os últimos anos, as Realidades Virtual e Aumentada se expandiram muito rapidamente, em uma escala global. A projeção é de que a América do Norte produza próximo de metade (45%) de toda a tecnologia de RV e RA até 2020, junto com a Ásia 30% e Europa 20%.


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Recentemente, a RV e RA foram utilizadas por uma grande fabricante americana de automóveis com o intuito de diminuir as lesões de funcionários em até 70 por centro durante o processo de fabricação. 

“Realidade Virtual é muito usada para treinamentos e para prever situações que podem ser perigosas para funcionários. Nós fizemos um estudo no nosso laboratório e verificamos há 80% de chances de uma pessoa sair de uma situação de risco se ela já foi treinada para isso”, esclarece o membro do IEEE.

“Já a Realidade Aumentada” ele continua“ é muito utilizada para melhorar a atividade e a realização de tarefas em ambientes pouco conhecidos, como exploração subaquática, dentro de minas e até dentro de fábricas. Por exemplo, com alguns sensores dentro desses lugares, podemos utilizar a RA para encontrar, com uma precisão de centímetros, profissionais, máquinas, ferramentas, painéis de manutenção. Assim como o GPS funciona em ambientes abertos, esses sensores podem funcionar em ambientes fechados. Isso é um fator muito importante para minimizar situações criticas de acidentes: onde está esse equipamento, em que situação ele está, quem pode acessá-lo e como fazer isso da maneira mais rápida”, exemplifica o professor Miyagi.

Impressão 3D

A impressão 3D é a tecnologia popular mais provável de inovação dos processos de fabricação em indústrias como aeroespacial e design, saúde e indústria automobilística que já estão colhendo os benefícios com a ajuda da manufatura de produtos. As aplicações são muitas, mas o professor aposta que “ela vai ajudar muito na área médica e odontológica” para a fabricação de próteses, por exemplo, que são produtos que devem ser personalizados, customizados. “O que temos hoje em dia são fabricações manuais ou fabricações em massa, de diversos tamanhos, para que o consumidor escolha o que melhor se encaixa. A impressão 3D abre um campo todo novo pra isso, a ideia é que se possa ter uma prótese feita sob medida para cada situação, para cada pessoa.”

Os três usos mais frequentes dessa tecnologia no ano de 2016 são provas de conceito, protótipos e produção. “A primeira aplicação da impressão 3D, do ponto de vista industrial, foi em produção de moldes, mas a máquina de impressão era muito cara. Hoje a tendência é que sejam impressas peças personalizadas, ao invés de moldes. Esse mercado tem um potencial muito grande, o que vai aumentar a demanda de impressoras 3D e, com isso, baratear seu custo. Dessa maneira, outros setores vão adotar a tecnologia. No mercado futuro prevê-se que muitos fabricantes terão produtos só no catálogo e teremos estações de impressões 3D em vários lugares do mundo. O consumidor escolhe no catálogo, o fabricante manda um pacote de dados para a estação de impressão, e o produto é feito na hora, sob encomenda”, declara o engenheiro.

A Manufatura Avançada no Brasil

No Brasil, muitos fabricantes que atuam na área de manufatura estão associados às grandes empresas e fornecedores presentes no mercado global e a maioria deles não tem uma posição de liderança. Dessa maneira, já que as inovações vêm de suas matrizes internacionais, o país não se arrisca numa tecnologia nova, a não ser que haja uma demanda do cliente para isso. “Nesse contexto é interessante analisar, novamente, a área da saúde. No Brasil temos hospitais que são de primeira linha, e esses hospitais estão demandando produtos desse tipo, feitos por encomenda”, comenta Paulo.

A tendência é que o consumidor brasileiro fique cada vez mais exigente e a indústria terá que atender essa demanda. O membro do IEEE finaliza: "Do ponto de vista financeiro, a Manufatura Avançada ainda é muito cara, principalmente em curto prazo. Mas em longo prazo, ela é claramente uma solução, ou a solução. Será um diferencial das indústrias no futuro, ter ou não ter essa tecnologia”.

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